quinta-feira, 24 de maio de 2012

Love Again

Recadinho: Antes de começar a postar essa shot, quero esclarecer que ela não foi escrita por mim. A autora foi a Téh (My BFF ^^) e foi postada originalmente no orkut dela. Tivemos ideia de fazer algumas adaptações nos personagens. Espero que possam se emocionar como eu quando li pela primeira vez. A fic é um pouquinho longa, mas decidi postá-la (com autorização da autora, claro!) completa logo.
Fic: Love Again
Autora: Téh
Adaptação: Lua

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Morte e Honra
O lugar estava lotado de corpos, de homens, em pedaços por conta dos conflitos no Afeganistão. Ali tinha um cheiro de éter misturado com sangue. Sons dos gemidos de milhares de soldados  machucados na batalha. Eu também estava ferido mas nem tanto quando o meu amigo Chance que agonizava ao meu lado, numa maca, enquanto eu esperava algum atendimento sentado em outra. Naquele estado ele não poderia se esforçar, estava muito debilidado; Um tiro no ombro esquerdo próximo ao peito, uma perna e braço quebrados. Seria um milagre ele resistir, e eu estava me preparando para o pior.

- Zac... - ele tentou me chamar mas sua fraqueza o impedia de impor qualquer força.
- Chance fique quieto que logo vem uma enfermeira nos examinar. - olhei ao redor me deparando com uma correria que nem me deu tempo para chamar por alguém. Aproximei-me da sua maca, ajoelhando-me ao seu lado.
- Você precisa me prometer uma coisa, meu amigo... - Sua voz saia inaudível, sem força.
- Do que você tá falando Chance? Não faça esforço. - Segurei seu ombro, ele meneou a cabeça insistindo em continuar.
- Me prometa que cuidará do meu filho, diga a Vanessa que eu o pedi para fazer isso, por favor. - falou com muita dificuldade, fechando os olhos em seguida.
- Não se exalte, Chance, por favor. - supliquei tentando acalma-lo, mas grosseiramente ele pegou meu pulso o apertando.
- Ande, prometa! - vociferou com um resto de força que sobrara, olhando em meu rosto. - Eu não tenho muito tempo... Prometa que cuidará do meu filho... - com a testa franzida ele levou a mão ao peito, como se sentisse uma fisgada no coração.
- Eu prometo. - minha voz saiu embargada, minha vista embaçada. Sabia que o pior aconteceria.
- Co-como seu filho. - num suspiro ele murmurou, derramando uma lágrima de dor.
- Como meu filho. Agora descanse... - exigi percebendo que ele não iria descansar.
- Mas uma coisa... cuida da Va-vanessa e se possível a ame... - num suspiro mudo ele arfou o peito e desfaleceu de olhos abertos. Passei meus dedos por eles os fechando. Triste, encostei minha cabeça em seu ombro, enquanto apertava a manga de sua camisa. Meu melhor amigo havia morrido, e eu tinha uma promessa a cumprir.

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- Chance Crawford. - Escutei uma voz feminina pronunciar aquele nome e logo identifiquei de quem se tratava.
Sai da sala, devagar por conta da torção do meu pé; estava de muleta. Segui até o encontro da voz. Ela era a única mulher, além da recepcionista, no local. A vi de costas, sua silhueta debruçada sobre a mesa da recepção perguntando informações sobre o marido e meu melhor amigo, Chance.
- Senhora, sinto muito mas... - a secretária começou, mas a interrompi. Elas me olharam desentendidas, eu fiz um gesto e Aline entendeu saindo. A mulher a minha frente tinha os cabelos negros presos em um rabo de cavalo, olhos expressivos e pouco maquiados. Sua expressão era de espanto sem mesmo saber por que a tinham chamado. Vanessa tinha uma beleza impar, porém não era o momento mais apropriado para admirá-la.
- Quem é você? - ela me olhou de cima a baixo, e fixou os olhos no meu sobrenome escrito no meu uniforme. – Zachary Efron. - pareceu lembrar-se das duas vezes que nos vimos, uma em seu casamento e outra no aniversário do pequeno Bryan.
- Sim, o amigo do Chance. - falei cordialmente, ela meneou a cabeça impaciente.
- Onde ele está? Porque me chamaram aqui? - vociferou olhando por cima dos meus ombros na busca por Chance.
- Vanessa, eu sinto muito em dizer mas... - baixei a cabeça sentindo um nó na garganta ao ter que dar aquela noticia. Ao erguê-la me deparei com seus olhos cristalinos, com lágrimas se formando. Seu lábio inferior tremeu e ela parecia prever do que se tratava.
- O que aconteceu com o Chance? - angustiada ela indagou, seus olhos saltando das órbitas. E aquilo só tornava as coisas mais difíceis pra mim, imagine pra ela.
- Ele... ele morreu, Vanessa. - murmurei fraco, bruscamente senti um impacto contra meu peito.
Vanessa soluçava baixo contra meu corpo, apertando meu braço numa forma de fuga. Abracei-a, com minha mão livre da muleta, tentando consolar a sua dor e de certa forma aquilo também me fazia bem. Não tinha recebido nenhum abraço desde que ele morrera, e aquilo era um pouco reconfortante. Perdi meu irmão, meu amigo, porém nem se comparava a dor que aquela mulher em meus braços estaria sentindo. Pude ouvir seu choro baixo molhar meu uniforme. Do mesmo jeito que ela se aproximou se afastou, limpando o rosto e respirando fundo. Seus olhos encontraram os meus como se pedisse ajuda, ou desculpa.
A partir daquele dia eu ficaria mais próximo dela e principalmente de seu filho.  Era a minha obrigação. Fazia parte da minha promessa.

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Depois de todo o velório, os tiros dos soldados e a exaltação ao hino nacional havia chegado um momento que eu nem imaginava, entretanto fazia parte das honras militares.
Zac carregava, nas mãos, uma bandeira dobrada e sobre ela uma medalha de honra. Pelo pouco que conheço de Zac sabia que ela faria questão de fazê-lo, tanto por ter sido um dos últimos a conviver com Chance, quanto pela sua amizade. Não sei bem o porquê que nós nunca fomos muito próximos, talvez por falta de tempo já que eu nem passava muito tempo com meu marido que dirá com seu amigo.
Ainda de muleta ele, veio de encontro ao meu filho Bryan, passando entre duas fileiras de oficiais armados. Em todo seu caminho permaneceu serio, questão de protocolo, suponho. Não me olhou, se dirigindo apenas a Bryan que estava na minha frente. Com certa dificuldade ele se abaixou ficando da altura dele e o entregou o que pertenceu a Chance.

- Cuide disso, e seu pai sempre estará perto de você. - sussurrou Zac, apenas eu e Bryan pudemos ouvir.

Não sabia se realmente Bryan entendia o que se passava. Ele tinha recém completado 5 anos, e apesar de ser bastante inteligente parecia ter a ingenuidade de um recém nascido o que me agradou, já que ele não sofreria tanto. Ver seu rostinho de anjo tão triste partia meu coração. Bryan era muito novo para já ter perdido o pai da maneira que aconteceu.  
Senti uma mão sobre a minha, que estava pousada no ombro de Bryan, apoiando-me. Olhei da mão de Zac aos seus olhos. Sorri fracamente agradecendo por ele estar ali. Entre conhecidos e desconhecidos me sentia bem na sua presença.

- Obrigada. - sussurrei inaudível, o obrigando a fazer leitura labial.

Escutei um choramingar e quando vi Bryan estava agarrado no pescoço de Zac que o abraçou de modo paternal. Involuntariamente levei a mão ao rosto e só então percebi que também chorava. Vê-los daquela forma me fez recordar Chance. Ele era um bom pai, e faria falta na criação de nosso filho.
Tudo estava acontecendo tão intensamente que eu me sentia sozinha, perdida... Não ter mais meu marido era como não ter metade do meu coração. Estava incompleta. Além do mais, a partir dali as coisas ficariam mais difíceis. Criar um garotinho sozinha não seria fácil, entretanto eu tinha que fazer por ele e pelo Chance.

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Primeiro Passo
Como eu contaria a Vanessa que tinha que cuidar dela e do pequeno Bryan? Ela aceitaria fácil? Qual seria sua reação? Preferi não arriscar. Omitiria aquilo o máximo que pudesse, até que conseguisse comunica-la. Eu tinha que ficar por perto mais não sabia como. Pedir abrigo seria desespero da minha parte, além do mais ela estranharia. Entretanto eu não tinha escolha, já que fazia 3 anos que estava com o regimento de Chance e depois daquela missão tiraria férias por alguns meses, obrigado também pelo meu estado de saúde.

- Obrigada de novo, Zac. - Vanessa rompeu meus pensamentos.
- Que é isso. Pode me chamar quando quiser, se precisar. - disse casualmente o mais amigável possível. Estávamos na varanda de sua casa, ela quase dentro da sala e eu na soleira da porta.
- Você vai ficar bem? - perguntou apontando para minha perna.
- Não foi nada de mais, só uma torção no pé. - dei de ombros, sem importar muito com as fisgadas que sentia. Ela me olhou como se perguntasse se eu ficaria ali. Tratei de mudar de assunto. - Ele era um bom homem, um irmão que não tive. - falei cabisbaixo, encarando o chão.
- Eu sei disso. - pareceu pensar ou lembrar-se de algo, enquanto cruzava os braços no peito. Olhava distante daquele tempo, pensativa.
- O Bryan vai ficar bem? - apontei pra dentro e pela porta aberta pude ver que ele brincava na escada.
- Sim, espero que sim. Ele é novinho para entender, acredito que será o que menos vai sofrer, afinal. - encontrei seus olhos fundos e pesados. Estampava uma máscara de fortaleza que não me enganava.
- Ele é tão parecido com o pai. - indiquei com o queixo pra onde ele estava, Vanessa olhou assentindo. Mesma cor de cabelo, castanho dourado e olhos claros. Seu pai em miniatura.
- Éhr... - senti uma dor na sua voz, tive vontade de abraça-la, mas me contive.
- Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa que esteja faltando, algo que o Bryan queira, não hesite em pedir. Estou aqui pra isso. - falei determinado e ela me olhava com uma expressão de confusão somada a recente fúria. Sua testa franzida, com os olhos semicerrados pareciam me recriminar.
- Não precisamos de nada. Você já fez muito. - disse me dando as costas, mas antes agarrei seu antebraço a fazendo ficar.
- Vanessa, é serio, o que quiser eu posso fazer. - falei tentando ajudar. Vi em seu rosto se formar um sorriso irônico, enquanto ela se soltava.
- Hey, você não percebeu? Eu não quero um militar perto de mim e do meu filho. - cuspiu as palavras que ficaram pesadas em meus ouvidos. Aquela mudança me atingiu em cheio, como uma bala de canhão.
- Mas, Vanessa... - pulei num pé só para tentar contê-la, em vão.
- Mas nada. Quem eu quero você não tem o poder de trazer de volta. Vá embora! Cuide da sua vida. - Bradou aos ventos, chorosa, batendo a porta na minha cara. Esmurrei-a por simples reação.
A culpa me arruinava. Tinha sido precipitado em oferecer mundos e fundos pra ela sem ao menos conhecê-la melhor, sem ao menos esperar sarar sua ferida recente. Comecei errado, tampouco desistiria. Como eu não tinha escolha fiquei na varanda mesmo, num confortável "sofá" que tinha ali. O cansaço tinha me pegado junto com as dores no meu pé que aumentaram pelo esforço que havia feito durante o dia. Ou seja, não tinha condições físicas de andar até um hotel, já que casa eu não tinha.

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A noite havia chegado rápido para um dia tão longo como aquele. Depois do jantar fui ver se alguém ainda estava onde não deveria. Espiei pela janela e vi Zac dormindo sentado. Revirei os olhos por sua insistência de ficar ali.
Sua presença me trazia segurança e ao mesmo tempo não poderia querê-lo por perto. Ele me trazia lembranças claras do meu marido e aquilo doía tanto, doía na alma. Perguntei-me se não estaria sendo muito mal educada o deixando fora, mas eu não poderia colocar um desconhecido dentro de casa. Está bem, ele não era tão desconhecido assim... E pensando melhor acredito que Chance gostaria que eu o abrigasse em casa.
Mas por que diabos, ele teimava em ficar ali? Ele não tinha casa, família?

- Mamãe? - Senti Bryan puxar minha saia. Olhei pra baixo e me agachei da sua altura segurando seus ombros.
- Você deveria estar dormindo, querido. - Afaguei seus cabelos vendo sua carinha amassada de sono.
- Deixa o tio entrar? - Apontou pra fora da janela, voltando logo a bocejar e esfregar os olhos.
- Vá dormir, está bem? Eu resolvo isso. - Beijei o topo de sua cabeça enquanto guiava-o de volta as escadas fazendo-o subi-las.
Dei meia volta. Suspirei derrotada. Não faria aquilo por piedade, ou por que Bryan havia pedido, faria porque era preciso. Senti que era preciso. Meu coração dizia que eu deveria fazer. Saí para a varanda batendo a porta com força. Aquilo fez Zac se remexer, sem acordar. Aproximei-me dele sentando ao seu lado, vendo que dormia feito pedra.
- Sei que vou me arrepender disso. - Reclamei frustrada com minha própria ideia. Sem mais demora puxei um de seus braços tentando erguê-lo para ficar de pé. Minha força não era suficiente pra levantar um corpo de um homem duas vezes maior que eu. Impaciente bati em seu rosto.
- Vamos me ajude. - Meio assustado ele abriu um olho, sem falar nada se levantou me tendo como apoio.

Seu braço foi sobre meus ombros e com a outra mão ele se apoiava na muleta. Meu braço ficou atrás de suas costas. Por um momento me peguei olhando seu rosto tão próximo ao meu, e como um imã meus olhos fixaram-se na sua boca vendo-a semiaberta. Levantei meus olhos encontrando os dele, desviei rapidamente. Aquilo revirou algo em mim. Não soube dizer o que.
Passamos pela porta com certa dificuldade, primeiro ele depois eu. Conseguimos chegar somente até o sofá, pois eu não sabia o que Zac tinha. Parecia doente, cansado, exausto. Logo ele se deitou acomodando-se em todo o sofá parecendo ficar bem confortável.
Quando ia sair para buscar um cobertor senti sua mão em meu pulso me fazendo ficar e mirá-lo. Outra vez ele não disse nada. Desceu a mão até a minha levando-a de encontro aos seus lábios depositando um beijo ligeiro nela, como se agradecesse o que eu tinha feito. Aquilo me pegou desprevenida e a sensação me surpreendeu. Saber que ele estava ali me transmitia algo bom, uma paz, segurança. Sorri em agradecimento e sem dizer nada sai.
Meu coração acelerou a medida que voltava aproximando-me com o cobertor em mãos. Me agachei ao seu lado percebendo que ele já dormia. Agradeci mentalmente e o cobri, voltando rápido para meu quarto onde não dormi.  

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Coração Partido
Outra vez uma noite longa. Não consegui dormir bem por ter ficado a pensar em tudo. Desde a morte do meu marido, como seria agora com Bryan e o novo hospede, Zac. Não era certo ele ficar aqui, mesmo depois do que eu fiz. O que eu não queria era um oficial enfurnado na minha casa, sendo exemplo pro meu filho seguir. Aquilo tinha passado do limite e eu tinha que tomar o controle. Cedo deixei Bryan na escolinha, sem esperar o ônibus que o levava, e quando voltei Zac ainda dormia. Tomava meu café, tranquila, quando escutei uns passos atrás de mim. Virei-me vendo que Zac tinha acordado.

- Você não tem parentes por aqui? - falei sem expressão alguma, fria enquanto remexia no meu café.
- Não. Meu pais moram no México e minha irmã cuida deles. Sou independente. Mas porque pergunta? - ele sentou-se na cadeira a minha frente, fitando-me confuso.
- Pra saber quando você vai embora. Olha, eu não quero parecer grosseira, mas eu não quero que você fique aqui. - Me levantei sem olha-lo, outra vez fria. Senti algo ruim, má sensação. Sentia-me desmotivada em estar fazendo aquilo, porém era preciso. Não queria Zac por perto.
- Vanessa, o meu único interesse aqui é o Bryan. Ajudá-lo a crescer como eu disse que... - Ele pareceu frear as próprias palavras, mas deixou escapar algo tarde demais. Virei-me, o encontrando olhando diretamente pra mim.
- O que quer dizer com isso? Você não tem direito nenhum. - Bradei enfurecida, falando o óbvio. Quem ele pensava que era?
- Mas o Chance me deu esse direito antes de morrer. - Disse sem receios, ao que parecia tudo estava sendo esclarecido.
- Como é? Do que você está falando? - Gesticulei alterada.
- No leito de morte o Chance me faz prometer que cuidaria do Bryan e... - Interrompi negando a acreditar o que ele dizia.
- Você está maluco! Isso é um absurdo! - Ri de nervosismo, andando de um lado pro outro com a mão na cintura assimilando o que ele dizia.
- Isso mesmo, Vanessa. Agora minha vida está aqui. Eu tenho que cuidar de vocês em nome do meu amigo. E é o que eu vou fazer. - Disse determinado e eu gargalhei irônica. Aquilo não poderia ser verdade.
- Só pode estar brincando. Chance não pode ter pedido isso. - Pensei com as mãos nas têmporas, desesperada. Agora essa, quando eu queria um militar longe de mim era quando ele queria ficar perto.
- Não foi um pedido, foi uma promessa. E algo que eu aprendi no exército é nunca desistir de uma causa, ser honrado a ela em todos os momentos difíceis. E assim eu farei com vocês. - Terminou o que parecia um discurso e eu o olhava sem acreditar em suas palavras mesmo elas me soando a pura verdade.
- Pois eu dispenso, como mulher dele eu tenho esse direito. Pronto! Você está livre da sua promessa. Vá viver a sua vida! - Gritei exaltada, gesticulei indicando a porta da rua pra ele.
- Você não entende. - Ele meneou a cabeça em negação.
- Não! É você que não está me entendendo. O que eu mais quero é ter uma vida nova longe de alguém que possa influenciar meu filho a ser algo que foi a causa da morte de seu pai. - Despejei as palavras junto com as lágrimas quentes que estavam ansiosas pela fuga.
- Mas eu não posso deixar o comando... - Coçou a cabeça, com falsa paciência.
- Ótimo, então vá viver a sua vida longe daqui. - Supliquei em prantos, enquanto escondia meu rosto entre minhas mãos. A dor tomou conta do meu ser. Sentia-me acabada e sabia que o estava ferindo também.

Depois só ouvi um bater de porta que me assustou. Virei-me e percebi que ele tinha ido embora como eu pedira. E o que deveria ter me deixado descansada tornou-se uma armadilha. Agora entendi porque chorava. Porque eu não queria que ele fosse. Não queria que me deixasse sozinha, sangrando por dentro. Despedaçada.  

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Sem Disfarce
Foi verdade que eu gostei da sua companhia. Saber que ele esteve aqui a noite toda foi reconfortante, mas eu precisava que ele fosse embora. O meu trauma pela perda do meu marido ficou e Zac me trazia tudo à tona mais forte e eu não queria aquilo, apesar de sentir que meu coração não gostava daquela decisão.
Dois dias se passaram desde que ele se foi. Não sei bem o porquê, mas o vazio que ficou só aumentava a cada hora. Vê-lo me dava uma paz, como se tudo se curasse e ao mesmo tempo acelerava meu coração. Bryan não gostou de saber que Zac havia ido embora comparando aquilo até como a perda de seu pai.
Quando estávamos saindo para esperar o ônibus que o levaria para a escola, tivemos uma surpresa. Zac estava no jardim caminhando lentamente com sua muleta, uma mala e um sorriso murcho nos lábios. Talvez por timidez, ou pela persistência que demonstrou ter voltando depois de tudo o que eu disse.

- Tio! - Bryan ao vê-lo correu e Zac o abraçou soltando a muleta no chão. Mais uma vez o vi como pai. Ele parecia gostar tanto do Bryan e ao mesmo tempo parecia seu pai...
Minhas mãos gelaram, meu coração acelerou, acredito que meu rosto ruborizou quando senti seus olhos sobre mim.
- Mamãe o ônibus chegou. - Disse tristonho, me voltei para ele beijando seu rosto. Ele se despediu de Zac e subiu no ônibus, que logo se foi.
Ao perceber eu já estava bem na sua frente. Algo inexplicável inundou meus sentimentos ao cruzar meu olhar com o seu. Meu estômago revirou, senti borboletas impacientes quererem sair dali. Ficamos a trocar olhares intensos como se sentíssemos saudade, o que não era mentira.
- Vanessa, eu queria conversar... - Impulsivamente abracei-o apertado, me pendurei em seu pescoço. Suspirei aliviada, de olhos fechados, por tê-lo de volta.

Senti suas mãos tomarem minhas costas em resposta e aquilo me causou um arrepio em todo o corpo. Seus braços eram fortes, quentes e macios, dando-me o calor que eu necessitava naquele frio. Meu coração falhou junto com minhas pernas ao sentir ele me apertar mais como se também esperasse por aquele momento tanto quanto eu.
De repente eu me afastei totalmente desnorteada. O que estava fazendo? O que eu estava sentindo? Num gesto inesperado ele tocou meu queixo erguendo meu rosto me obrigando a olha-lo. Estávamos tão próximos que pude sentir sua respiração calma e quente contra a minha. Seus olhos cor de oceano eram fascinantes e vistos de tão perto tinham um brilho hipnótico.
Pela proximidade reparei que ele tinha uma pequena cicatriz na sobrancelha e me perguntei em qual batalha ele a tinha conseguido. Era tão bom estar daquela forma. Perto dele eu me sentia segura. Meu coração palpitava nervoso.

- Sei que começamos com o pé esquerdo e quero te dizer que eu pensei muito e vi que se era da vontade do Chance que você me ajudasse a cuidar do Bryan, eu fico de acordo. - Murmurei voltando a ficar de cabeça baixa, envergonhada e ao mesmo tempo certa do que dizia.
- Nossa, Vanessa. Eu só tenho que te agradecer por isso, é verdade. Farei de tudo pra te ajudar a tornar o Bryan um garoto melhor do que ele já é, sem influenciá-lo a seguir os passos do pai. - Ergui o rosto e percebi o quanto ele estava contente mais ao mesmo tempo limitado. Tive a impressão que ele queria me agradecer com um abraço, mas se policiou ficando petrificado no chão. Atitude de militar, rígido?
- Então vamos entrar, e eu te mostro seu quarto de hóspede. - Nervosa coloquei a mão na nuca.
- Vanessa, eu prometo que vou embora assim que receber o que me devem lá do Regimento e te deixo em paz. - Me garantiu com falsa vontade.
- Não se preocupe. Fique e depois conversamos. - Sorri amigável e ele permaneceu serio, tenso.

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As lembranças vieram como se estivessem acontecendo de novo. Lembrei-me da primeira vez em que vi Vanessa, em seu casamento com Chance, e em como desejei que ela fosse a minha noiva. Naquele dia ela simplesmente estava linda, o mais perto da perfeição que já vi. Desde então evitei o máximo estar perto dela, e recusei até ser padrinho de Bryan quando Chance me convidou. Tudo necessário. E agora eu me via naquela situação. Cuidar de Bryan e conviver com a mulher que realmente foi a única que me interessou de verdade. Ah, mais um pequeno problema... Ela tinha sido mulher do meu melhor amigo. Isso seria uma traição da minha parte. Estar apaixonado por ela e não poder fazer nada. Estava encurralado.
Eu tinha voltado não só pela minha obrigação perante Bryan e a promessa que fiz ao meu amigo, se não por Vanessa também. Sabia que ela precisava de força, apoio. Sua casca estava firme, mas algo me dizia que logo era desmoronaria. Passamos a tarde conversando e nos conhecendo melhor. Fiquei encantado com sua habilidade gastronômica.
Bryan havia voltado da escola e ficou muito contente ao saber que eu ficaria por alguns dias com ele. Entreguei o carrinho de controle remoto que comprei de presente pra ele, e disse que assim que terminássemos o dever brincaríamos.

- É fácil, olha. - Disse enquanto ajudava com o dever. - Preste atenção nos pontos antes de traça-los. Imagine a figura na sua cabeça e depois faça no papel. - Ele assentiu entendendo e fez como eu disse terminando o desenho.
- Um elefante! Como imaginei. -Sorriu para mim entusiasmado e eu baguncei seus cabelos.
- Agora vamos brincar? - Falei cumplice e ele logo se levantou pegando seu presente. De esguelha percebi que Vanessa nos olhava escondida atrás da parede, apenas com a cabeça a mostra. Ao encontrar nossos olhares ela se escondeu e eu balancei a cabeça, tentando tirá-la dali. Em vão e perca de tempo.

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Depois do jantar, Bryan já deveria estar no quinto sono. Eu e Vanessa ainda conversávamos no sofá da sala, enquanto tomávamos vinho. Conversa vai conversa vem, voltávamos sempre pro mesmo assunto.

- Vanessa, eu sei que é difícil tudo o que você está passando, mas eu te admiro por estar sendo tão forte. - Falei confiante, encontrando sua atenção.
- Você não faz ideia de como está sendo complicado. - Vanessa começou suspirando. Sua cabeça estava apoiada na mão.
- Érh, tenho uma noção. - Disse contornando a boca da taça com o dedo.
- Um dia tudo está bem e no outro você perde seu marido, perde o rumo. - Sua voz tinha mudado, estava abafada, baixa.
- Sinto muito... - Tentei ajudar.
- Ele me prometeu que voltaria. Ele me fez essa promessa e não... não cumpriu. - Ansiosa sua voz falhou. - Ele me deixou sozinha com o Bryan. - De calma sua voz se fez descontrolada, assim como as lágrimas que jorravam sem pudor de seus olhos.
- Van...
- Ele disse que ajudaria a cuidar do nosso filho... - Limpou as lágrimas com a costa das mãos. - Que voltaria para educá-lo. E agora estou aqui, sozinha. - Ela gesticulou como se não tivesse nada a sua frente, sendo tomada por novas lágrimas.
- Saiba de uma coisa. - Peguei em sua mão a fazendo olhar pra mim. - Você não está sozinha. Chance me mandou pra cuidar de vocês e é isso que eu vou fazer. - enfatizei a última palavra diante de seus olhos vermelhos.
- Obrigada por isso. Você é ótimo, Zac. - Sorriu fraco ficando cabisbaixa. Levei meus dedos ao seu rosto limpando as lágrimas. Aproximei-me puxando seus ombros a colocando em meu peito, onde ela continuou a soluçar até ficar calma, com a mão sobre meu coração. Como era bom sentir Vanessa em meus braços... Protegida. Envolvida no meu amor sem saber... E finalmente a vi sem disfarces, estava desabafando e aquilo era bom.
- Isso me dói tanto. - Murmurou num silvo baixo.
- Eu sei que sim, meu am... - parei constrangido e agradeci por ela não ter percebido meu deslize. Voltei a acariciar suas costas de olhos fechados lhe transmitindo calma. - E ele voltou, mas não pra casa. - Afaguei seus cabelos, enquanto sentia novas lágrimas molhar minha camisa.
- Sinto um buraco no meu coração. Mas não sei... - Pausou. Beijei o topo de sua cabeça, automaticamente, outra vez dando sinais.
- Não sabe o que? - Perguntei e ela se afastou para responder.
- Com você isso tudo ameniza. Sua presença me faz bem, me sinto melhor com você... - ela admitiu baixo, enquanto olhava para as mãos, em minha perna, sem perceber.
- Eu também me sinto assim. É melhor com você por perto. - Murmurei acariciando sua mão.
- Então estamos fazendo um bem ao outro. - Ela disse com um riso fraco e eu fiz o mesmo.
- E vou te proteger, estarei ao seu lado quando precisar. - Assegurei e ela assentiu.

Nossos olhares se encontraram e logo eu estava perto demais de seu rosto. Suavemente tirei sua franja dos olhos, desci minha mão por seu rosto limpando resquícios de lágrimas e desci mais até seu queixo fitando sua boca semiaberta. Percebi que Vanessa ficara de olhos fechados aproveitando o carinho. Minha mão foi para sua nuca a puxando delicadamente para perto, ela não hesitou tocando meu rosto levemente. Senti sua respiração acelerar a medida que comecei a tocar meus lábios nos seus. Ambos desejando o beijo.
Num lapso de arrependimento pulei do sofá, movido por uma força sobre-humana: A da traição.

- Eu não posso. - Bradei, nervoso passando a mão nas têmporas e na cabeça, andando de um lado a outro.
- Isso não é certo. - Ela já estava de pé ao meu lado, gritando desesperada.
- É tem razão, isso não pode acontecer. - Nervoso me via sendo a pior pessoa do mundo se continuasse com aquilo, e por outro lado morria de frustração por não tê-la beijado como desejei... como desejávamos.
- O que está acontecendo... - Se refreou, parando pensativa, com as mãos na testa.
- O que está acontecendo? - Precisava que ela dissesse para tomar a melhor decisão.
- Nada. - Sussurrou, e percebi que ela já chorava outra vez. Antes que eu pudesse acalentá-la Vanessa correu escada acima.
Fiquei pensando se ela iria dizer que estávamos nos apaixonando. Sim, era exatamente o que tinha acontecido. Não havia culpa, ou traição que superasse aquele sentimento. O amor não teme, mas precisávamos de tempo.

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Amor de Novo
Os 15 dias de repouso de Zac foram passando, passando e transformaram-se em 2 meses. Ele não descansou um dia sequer desde que eu o hospedara em casa. Inventou de tudo, desde pintar a casa por fora, a reforçar os móveis e até fazer uma casinha na árvore pro Bryan que ficou super empolgado.
Não sei por que, mas ele sempre me evitava e aquilo me fazia mal de alguma forma. Queria ele perto, antes era cedo demais.
Zac deixou a muleta de lado, por ter ficado bom, e no mesmo dia foi jogar futebol com Bryan. Eles se divertiam muito. Davam-se bem e eu cheguei a pensar que Zac seria um bom pai quando tivesse um filho. Eu e ele nos encarávamos algumas vezes, nos aproximávamos e logo um dos dois corria. Fugia dos sentimentos que sabíamos ser reciproco. O que estava acontecendo era assustador, porém compreensível. Zac demonstrava sua generosidade em me ajudar quando eu tinha uma crise de lembranças e chorava a noite toda em seu colo, com seu apoio e amor. Ou, quando Bryan tinha pesadelos ele o fazia voltar a dormir.
Quando voltei da casa da Ashley encontrei a minha vazia. Era tarde da noite, a babá deveria estar cuidando de Bryan. Estranhei os brinquedos jogados na sala e corri pelas escadas, imaginando o pior. Empurrei a porta do quarto de Bryan e vi a cena mais emocionante da minha vida. Zac dormia ao lado de Bryan na cama, um braço envolvendo-o paternalmente e na outra mão um livro, o qual provavelmente contava pra ele após seu pesadelo.
Aquele quadro ficou pintado na minha mente, registrado como uma foto. A alegria me dominou por saber que meu filho tinha um pai. Não de sangue, mas de coração que o amava como se fosse seu. Lembrei-me do Chance, o que me fez soluçar mais e mais. De como ele foi generoso no seu amor e cuidado conosco nos mandando a pessoa certa. Exatamente a que nos amaria como ele. Tentei tampar minha boca, porém saia sem eu querer.
Bryan parecia tão sereno no seu sono, sabia que estava seguro. Estava com um sorriso confirmando que se sentia bem com o seu novo pai. Senti-me acalentada por vê-los daquela forma como pai e filho de verdade.
Sorri ao somente agora nominar o que eu sentia por Zac. Era amor. Do mais puro e verdadeiro que senti na vida. Levei a mão aos lábios em surpresa por minha descoberta óbvia. Tudo o que sentia estava tão claro e nítido que parecia escrito em meus olhos.
Já tinha sentido um amor por Chance e esse não morreria, o amor não morre. Entretanto com Zac as sensações eram diferentes, mais intensas, mais reais. E soube que o amei desde a primeira vez que o vi, em meu casamento. Seus olhos me analisando me intimidaram, é verdade, e contive aquela sensação tentando esquecê-lo.
Eu amava Zac. Não por escolha, mas por decisão do meu coração o qual eu não podia lutar contra. Voltei a amar! Era uma experiência incrível. O sentimento mais nobre estava de volta ao meu coração na forma de amor por um outro homem. O amor por meu filho seria eterno e irremediável.
Tudo foi recente e não estávamos preparados para as consequências. Entretanto agora eu via tudo de outra perspectiva. Minhas feridas abertas, estavam saradas. Cicatrizadas. Meus medos vencidos pela fé no amor. O amor não tem medo, o amor supera qualquer dor. Eu contaria o quanto antes a ele o que eu sentia... Eu precisava. E o esperaria quanto fosse preciso, o compreenderia. Pois o amor é paciente.

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Era verdade que eu não parava de buscar alternativas pra me distrair e não pensar em Vanessa, o que era humanamente impossível com sua presença diária e amável que deixava mais claro o meu amor que crescia se multiplicava, e isso várias vezes por dia. Entendi que precisávamos de tempo para poder entender e absorver tudo o que tinha acontecido: A morte de Chance, e o que vinha acontecendo: Eu e Vanessa nos amávamos.
Precisávamos de compreensão e sei que mesmo sem tocar nesse assunto sabíamos. Estávamos esperando o melhor momento que não demoraria tanto mais.
Terminava de pintar a casinha do cachorro que prometi a Bryan e tive a visão do paraíso, ou melhor, de uma deusa. Vanessa vinha com uma bandeja de sucos em nossa direção. Os cabelos mal presos, com as mechas caídas nos olhos, que eu queria tanto tirá-las pela simples desculpa de poder mirar seus olhos outra vez. O corpo perfeito, coberto por uma regata branca e um short jeans curto, realçavam suas curvas. Parecia ridículo, mas só de vê-la eu ficava desconcertado. Derrubei um pincel na grama manchando-a de azul.

- Tio o suco. - Bryan me tirou dos meus devaneios. Assenti voltando a Vanessa que sorria tímida e peguei um copo.
- Você não para, não? - Ela disse com ar de riso, sentando-se na grama conosco. Bryan ficou a pintar distraído.
- Se parar eu penso, se eu pensar... - Parei ao perceber que falaria demais, terminei o suco num gole só o devolvendo a bandeja.
- Se pensar? - Ela insistiu, com a sobrancelha erguida.
- Faço bobagens. - Desconversei me levantando, desviando de sua obstinação.
- Que bobagens? - Perguntou ela me seguindo até a varanda. Virei-me pra ela percebendo sua vontade de descobrir do que eu falava. Olhei ao longe, Bryan continuava a pintar o teto da casinha, segui para dentro da cozinha.
- Não vem ao caso, Van. - Desviei dela, ficando de costas.
- Porque você tá fugindo? - falou casualmente. Coloquei os braços na pia respirando fundo, antes de continuar.
- Porque se eu não fugir eu me deixo levar e isso não é o certo no momento. - Fechei os olhos lutando par continuar.
- Porque não é certo? Porque você insiste nisso, Zac? - Escutei sua voz bem atrás de mim. Tive vontade de dizer tudo o que estava engasgado e acredito que não seguraria por muito tempo.
- Porque acho que não estamos preparados. - Confessei quase inaudível, sem vontade.
- Faça o que seu coração sente, é o melhor conselho que tenho. - Murmurou docemente com uma mão no meu ombro.
- Eu me sinto um traidor, já disse. - Impaciente, soquei a pia.
- Ao contrário. Você é um lutador, já venceu varias batalhas... - Tentou me convencer.
- Mas essa eu perdi. - Admiti, me virando pra fitá-la encontrando seu rosto tão belo e suave.
- Perdeu? - Desentendida ela mirou, franzindo o cenho. Foi o que bastou para me render ao que sentia por aquela mulher. Desatar as amarras que prendia meu coração.
- Perdi para o amor que sinto por você. - Confessei, numa voz rouca, abafada. Percebi que a boca de Vanessa abria e fechava sem ter o que dizer, ainda refletindo o que eu falara. - E é por ele que eu voltei, e porque estou aqui te dizendo o que sinto. E pelo qual demorei a espera do melhor momento pra confessar de uma fez que eu te amo de um jeito tão bom que nunca terei palavras para descrevê-lo. - Terminei e já estava rolando um lágrima pelo meu rosto assim como no rosto de Vanessa. Minhas mãos foram parar em seu rosto, tirei as mechas insistentes, contornei com o polegar seus lábios, enquanto ela apoiou as mão em meu peito.
- Como eu queria ouvir isso... - Seus olhos cristalinos exalavam ternura, me aproximei mais roçando meu nariz no seu, ambos de olhos fechados. - Senti medo, no começo, mas percebi que o amor não deve sentir isso. O meu coração se decidiu por você de uma forma pura e sem receios. Pensei que tudo poderia acontecer de novo, mas apaguei isso da minha mente. E por fim acabei amando, de novo, você. E é um lindo amor. - Confessou contente com uma sorriso nos lábios, passou as pequenas mãos pelo meu rosto.
- Érh, lutamos inutilmente. - Falei zombeteiro arrancando um riso seu, enquanto colávamos as testas.
- O meu coração estava doente e quando você chegou foi como um remédio. - A medida que dizia seus olhos ficavam cristalinos, e sabia que eram apenas espelhos dos meus. - Minha vida ganhou sentido, vontade... - Murmurou sincera.
- E eu nunca pensei que poderia amar você como eu sei que amo. Eu também travei uma batalha, mas com o amor não se luta, não se perde, apenas se ganha. E você é o melhor amor que eu poderia querer. - Falei acariciando seu rosto com meu polegar, enquanto ela segurava suas lágrimas. - Vanessa, eu te amo. - Disse acariciando seu rosto , enquanto via lágrimas se formarem nas bordas de seus olhos. - Porque está chorando, Van? - Assustado olhei diretamente em seu rosto.

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Quando ouvi aquelas palavras saírem de sua boca eu parei de respirar, meu coração pulava insensato de emoção. Eu era correspondida e estava feliz. Mais do que feliz. Ninguém nunca conseguiria entender o que eu sentia mesmo se tentassem explicar em palavras, desenhos, músicas, poemas. Nada seria o bastante pra expressar meus sentimentos, e como eu queria que Zac soubesse daquilo. E eu tentaria fazê-lo tanto feliz como eu era apenas com sua presença, com seu olhar, com seu toque...
- De emoção. Repete isso, por favor? - Pedi emocionada sorrindo e ele fez.
- Eu te amo, Vanessa. Minha vida agora é te amar. - Olhei de seus olhos a sua boca, fascinada com sua beleza. Assimilei suas palavras inalando seu amor. Meu coração estava leve, puro...
- Eu te amo tanto, Zac, como nunca pensei ser possível outra vez. - Sussurrei baixo, de testas coladas entregávamos nossos corações rendidos.
Fechei os olhos esperando que ele fizesse o que tanto esperávamos. Lentamente Zac levou seus lábios aos meus, sentindo o beijo esperado se tornar inesquecível. Meu coração disparou e eu quase o sentia pela pele. Meus braços foram parar na sua nuca acariciando-o, e os seus na minha cintura colando-me a ele. Corpos transmitindo carinho, calor. Com beijos lentos aproveitávamos o tempo desperdiçado... Por medo. Quanta bobagem se o amor é tão grande e deixa essas coisas minúsculas, em comparação. Seus lábios tinha um sabor inenarrável, um sentido mágico. Quentes e macios, irresistíveis e meus. No encontro de nossas línguas eu senti meus joelhos vacilarem junto com meu coração que parou.

Acariciei seu rosto, enquanto degustava de seus incessantes beijos. Suas mãos poderosas afagaram minhas costas e senti um arrepio percorrer meu corpo. O beijo foi melhor do que qualquer expectativa. Poderíamos nos beijar quantas vezes quiséssemos que nunca seria suficiente para satisfazer-nos. Meu peito arfava por falta de ar tamanha duração do beijo, que por mim nem importaria de continuar. Porém, por causa da natureza humana separamos nos lábios com muita dificuldade ficando de testas coladas e olhos fechados sentindo todos os sentidos virem à tona mais fortes e purificados pelo amor celeste que nos envolveu.
Suspirávamos apaixonados. O sentimento mais puro do mundo havíamos dedicado: O Amor. E era sem volta pra ambos. Sabia que ele era o homem certo. Sabia que o amava.

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Sem Palavras
Nossa! Como a vida te pega de surpresa. Eu havia perdido meu marido a alguns meses e meu coração voltou a amar rápido e em maior intensidade. E eu não me sentia como traidora. Ao contrario sabia que Chance tinha me mandado a pessoa mais certa e que lá do céu ele nos abençoava.
Iria fazer três meses que estávamos assumidamente juntos. Bryan adorou a ideia e fez uma surpresa a Zac enquanto passeávamos, como uma verdadeira família que éramos, pelo parque.

- Papai, eu quero um cachorrinho pra casinha que você fez comigo. - Falou com um beicinho pidão, nem se dando conta de quanto importante foi aquele pedido espontâneo.
- O que você disse? - Zac se ajoelhou no meio da grama, segurando Bryan pela cintura. Eu via tudo muito emocionada, comovida com aquele presente que Bryan fez a Zac sem saber. Ele que até então se distraia com o seu sorvete, olhou para Zac sem dar muita importância ao que disse.
- Eu quero um cachorrinho, Papai. - falou de um jeito tão inocente. Zac não se conteve de emoção. Abraçou Bryan o erguendo do chão. Lágrimas saiam de seus olhos. À muito tempo ele não tinha vergonha de chorar na minha frente.
- Claro, meu filho. Tudo o que você me pedir. - Segurou Bryan por baixo dos braços o erguendo no ar, enquanto rodopiava. Nosso filho gargalhava com a brincadeira parecendo voar. Eu ria e chorava de tanta emoção ao ver minha vida tão feliz.
- Só não vá deixar ele mal acostumado. - Brinquei divertida, com Bryan nos braços de Zac, me abracei a eles.
- Obrigado por me deixar ser parte dessa familia... Nossa familia. - Ele disse olhando pra mim, sorridente, com Bryan no colo.
- Eu que te agradeço, por ser maravilhoso. - Rapidamente no beijamos, e logo voltamos a brincar com Bryan que estava mais feliz que nunca.

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Estávamos felizes, digo... mais que isso. Acho que precisariam criar outra palavra que expressasse o que sentíamos. Zac disse que me pediria em noivado dali a duas semanas e aquilo me encheu de entusiasmo. Morar junto era uma coisa, mas casar era outra. E seria no religioso já que Chance e eu escolhemos somente o civil. Agora teríamos a benção de Deus, o amor Dele nos encheria de luz. Mesmo dormindo em seus braços, onde descobri meu lar, sonhava praticamente todas as noites com ele. Era incrível!
Um dia aparentemente comum me pegou desprevenida. Senti um beijo no canto da boca, sorri contente de como ele costumava me acordar. Passei a mão pela cama a percebi vazia. Abri os olhos me adaptando a luz, e consegui ver a silhueta de um militar sair do meu quarto. Parecia um fantasma. Porque Zac estava vestido assim? Levantei num pulo e corri atrás do vulto. Desci as escadas e com a mão na maçaneta da porta Zac parou virando-se pra me olhar e sua expressão não era contente.

- Porque você...? Aonde vai? - Temerosa, perguntei sem raciocinar.
- Eu tenho que me apresentar no comando hoje. - Falou secamente com o rosto inexpressivo.
- O que co-como assim? - Esfreguei a mão nas têmporas, descrente. Olhei para seu uniforme e me lembrei da vez que Chance foi e não voltou mais. Um vento frio passou pelo meu corpo e me arrepiei. Aquela sensação era conhecida e eu tinha tanto medo dela.
- Eu tenho que ir resolver algumas pendências, e eu já adiei tempo demais... - Ele falou com cuidado para não falar mais do que devia. Saiu pela porta, minha visão turvou a medida que ele se afastava. Porque tudo se repetia?
- Aquela ligação... Por isso você ficou tão distante... - Raciocinei juntando os fatos de dias anteriores que ele vinha recebendo insistentes ligações e nunca me dissera quem era.
- Sim, Vanessa, foi isso. - Ouvir meu nome inteiro foi uma surpresa desagradável, já que nunca mais havia me chamado assim. Sua expressão agora estava enfadada, como se fosse um sacrifício ter que fazer aquilo e eu sabia que era verdade.
- Precisa mesmo fazer isso? - Indaguei receosa, temendo pela resposta lógica.
- Infelizmente sim. - Seu tom foi triste. Ele se aproximou mais de mim. - E como acha que o Bryan vai ficar? - Levantei a cabeça, encontrando seu olhar de sacrifício.
- Ele vai estranhar, espero que fique melhor do que eu... - Meu tom foi inseguro, ele não deveria ter ouvido isso. Queria poder dizer o quanto eu desejava que ele ficasse e esquecesse as obrigações, mas não podia. O egoísmo não existia em mim, eu não seria capaz de contraria-lo.
- É por apenas um tempo. Espero voltar logo e... - Pausou, pegando em minhas mãos. - Me casar com você, Van. - Sua mão foi até meus cabelos levando uma mecha para trás da orelha.
- Vou sentir tanto a sua falta. - Meu coração sofria com aquela despedida. Eu acreditava no que ele dizia, sabia de seu amor por nós, eu e Bryan. Mas porque ele estava se sacrificando?
- Amor, entenda que o que estou fazendo é pro nosso bem. - Ele explicou tendo a minha atenção. Beijou rapidamente minha testa e desceu as escadas para o jardim. O segui angustiada sem saber o que fazer. Percebi que estava descalça e que o tempo estava nublado.
- Quando você volta? - Perguntei uma oitava mais alta do que eu queria, pelo menos chamei sua atenção tendo-o mais um pouco. 
- O quanto antes, assim espero. - Se virou encontrando meu olhar triste e baixo. Não suportaria olhar pra ele pela última vez. Mas pelo nosso amor eu acreditaria que ele voltaria, o medo que me trazia lembranças ruins não contrariaria meu coração.
- Confia em mim, Van. Só pensei em vocês fazendo isso. - Disse mantendo-se paciente, e percebi sua generosidade. Não importaria o que fosse, eu entendia que era para nosso bem. Já tínhamos esperado pela cura das cicatrizes e agora não seria diferente. Ele estaria sempre em minhas orações, onde eu pediria a Deus para cuidá-lo e trazê-lo de volta. Arrepiei-me pelas gotas geladas que caiam sobre meu corpo, e me dei conta que usava apenas uma camisa dele.
- Eu confio, meu amor. Será difícil sem você mas eu tenho fé. - Me agarrei nas mangas do seu uniforme, e não evitei lágrimas ao olhá-lo. Pelo menos com a chuva elas se camuflavam. Sabia que ele chorava comigo.
- Vanessa eu tenho uma explicação pra tudo isso, você... - Murmurou como se fosse sua culpa  aquilo, porém eu não exigiria nada por agora.
- Sei que sim, e você me dirá quando voltar, está bem? - Funguei encostando nossas testas. Ele me envolveu nos seus braços e mesmo no meio da chuva eu me sentia quente, segura. E por aquele segundo nada importava, nada existia.
- Voltarei pra vocês. - Murmurou garantindo-me mais uma vez, segurava firme meu rosto entre suas mãos. Senti verdade nas suas palavras e me apegaria a elas em minhas preces. - Eu não falho nas minhas promessas, Van. - Eu o ouvi dizer de olhos fechados enquanto estávamos de testas coladas. Suas palavras tranquilas dançavam em meus ouvidos decorando-as e de certa forma convicta de que ele cumpriria o que dizia.
- Rezarei por você, pensarei em cada minuto o que vivemos até o dia que você voltar. - Murmurei com a voz embargada. Nos separamos, ele me olhou profundamente. Eu sentia seu amor, mas agora doía. Chovia no meu coração.
- E tenho bons motivos pra voltar. - Garantiu com um breve sorriso, eu funguei triste. - Eu te amo e diga o mesmo ao meu filho. - Sussurrou abafado, eu apenas assenti mordendo o lábio inferior.
- Também te amo, meu amor. - Murmurei quase sem voz, olhando em seus olhos.
Com a grande aproximação fechei os olhos esperando pelo que aconteceria, e delicadamente ele me beijou de uma forma intensa e calma, apenas pressionando os meus lábios com os seus. Justo e inesquecível. Meu coração delirava a cada vez que aquilo acontecia, e agora era igual, ou mais forte. Aos poucos nos separamos, ele me abraçou outra vez e então o deixei ir naquela tempestade. Quem dera eu pudesse chorar como as nuvens. Quem sabe assim o meu diluvio o trouxesse de volta.

Sentei-me na escada olhando para o nada, soluçando com a recente ausência que ela fazia. Era difícil, mas eu seria forte. Ele me ensinou a ser forte. Ele enxugou as minhas lágrimas, ele me abraçou quando eu precisei, ele me fez amar novamente e por ele eu ficaria esperando o tempo que precisasse. A chuva que lavava a alma, também lavava meu amor deixando o limpo e forte para uma nova tempestade. Eu nunca gostei de dias chuvosos e naquele momento só senti ser um dia triste, entretanto sairia o sol para iluminar com seus raios claros e decididos. Igual seria o dia da volta de Zac, claro e decidido.
Eu o sentia em mim, sim. Ele estaria onde quer que eu estivesse, eu o levaria comigo. Ele tinha o meu amor, e eu o seu. Senti-me como na vez que Chance se foi, porém eu sabia que Zac voltaria. Ele me deu essa certeza, essa promessa. E eu confiava nele. Meu amor era fiel a Zac. Eu acreditava que ele cumpriria sua promessa. O meu amor me dizia que tudo era possível se o coração fosse confiante. O nosso era, é e sempre será dessa forma. Não temos amarras, nosso amor é liberdade.
Eu não sentiria medo, sentiria falta do meu amor.

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Destinos Traçados
Aquele lugar me lembrou do dia que eu reencontrei Vanessa. Naquela mesma sala que eu lhe dei uma péssima noticia, somente esperava que hoje a noticia fosse melhor. Esperava por uma resposta a um pedido extraordinário e pedi máxima urgência. E necessitava dessa resposta o mais rápido possível. Vanessa e Bryan não mereciam esperar e por eles eu precisava voltar o quanto antes.
Sentado no banco, me mantinha ansioso com as mãos cruzadas, me debruçava apoiando meus cotovelos nos meus joelhos, demonstrando minha tensão. Pessoas passavam. Entravam e saiam. Algumas horas depois o General Phillipe me chamou. Fiz rapidamente continência. Olhei-o buscando pela resposta que eu queria.

- Então, General? - Me apressei em perguntar.
- Sinto muito, mas seu pedido foi negado. - Ele disse firme. - E você foi escolhido como novo comandante do Regimento do Chance. - Anunciou com se fosse a melhor notícia que eu poderia esperar, mas se enganou. Era a pior.

Não sabia o que dizer, não conseguia. A notícia havia me pego de surpresa, afinal eu tinha ido ali com outro proposito. Ao mesmo tempo em que eu não queria aceitar por causa de Vanessa e Bryan, devia aquilo ao meu amigo e minha pátria. Senti-me levando uma rasteira e antes que caísse me sentei.
A voz de Chance, no dia de sua morte, ecoou em meus pensamentos. "Mas uma coisa... cuida da Va-vanessa e se possível a ame... "
Ele queria que eu a amasse. Parecia saber que aquilo seria possível. Parecia aprovar desde o inicio. Ele me confiou seu filho. Sua mulher. Sua vida. Não poderia desfazer aquela promessa. Ou melhor, ela não tinha mais validade porque eu não estava com Vanessa por ela, mas sim porque eu a amava de verdade. E sentia Bryan como meu filho de coração. E não conseguiria viver sem minha família, minha vida, meu amor... Vanessa e Bryan precisavam de mim, e eu deles.
Se aceitasse comandar o Regimento e o que aconteceu com Chance, acontecesse comigo? Falharia não uma mais duas vezes, e não era do meu costume. Dei minha palavra que voltaria e sabia que Vanessa acreditava nisso. Agora eu não saberia viver sem aquela mulher.
- E, então Comandante Efron, vai assumir o Regimento do Chance? - Insistiu impaciente. De pronto me levantei, negando assiduamente com a cabeça. Minha voz não saia.

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*** O lugar era desconhecido. Parecia um centro de alguma grande cidade. Mas apesar disso tudo estava vazio, deserto. Havia quatro caminhos: dois à minha frente, e dois as minhas costas. Parecia uma encruzilhada. Dei um volta sem sair do meu eixo, me sentindo perdida. Quando virei vi Chance na minha frente. Ele sorria. Mesmo de longe eu via seu rosto bem definido. Acenei contente em vê-lo tão bem... Mas me enganei. Seu corpo, com o uniforme do exército, estava sujo de terra e sangue... Que parecia sair de seus ferimentos à bala.
De repente duas luzes fortes vinham em grande velocidade atrás dele. Parecia um trem por sua grandeza. Tentei avisá-lo, porém ele não ouvia e nem consegui sair do canto. Antes que o trem o pegasse, virei o rosto escondendo-o em minhas mãos. Senti o forte clarão aos poucos diminuir e então voltei a olhar o lugar. Uma luz fraca iluminava outro corpo que não era mais de Chance. Zac me sorria feliz, envolto dele vinham luzes de diversas matrizes.
Uma paz me invadiu e agora me senti bem. Segura. Reparei que tinha apenas um caminho que me levava a ele. Sem pensar andei até próximo dele, que me envolveu em seus braços. Antes de olhá-lo nos olhos, acordei do meu sonho. ***
Perdi a conta das vezes que tive aquele sonho desde que Zac havia ido. Eu acordava feliz, calma e esperançosa. Corria para a janela na expectativa de que ele estivesse voltando, mas só via a neve cair. Desde aquele dia o tempo mudara. Nova York ficou debaixo da neve, como se expressasse o que sentia por dentro, já que me sentia assim... Fria e triste. Porém sempre com a esperança e sabia que a cada sonho, ele estava mais perto de mim. Era um dia a menos de distância, um dia a menos sem sua ausência...

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Sonho Feito Realidade
O céu azul, com poucas nuvens esbranquiçadas, anunciava a mudança de estação. O sol irradiava seus raios intensamente aquecendo a pele e o coração. Adorava aquela paisagem que via de minha janela toda manhã. Junto com aquela "mudança" eu ficara mais feliz como os pássaros que bailavam nas copas das árvores.
Enquanto inspirava o ar fresco de olhos fechados escutei um latido ao longe. Curiosa, fui tentar ver onde era. Ao olhar para baixo da minha varanda vi um pequeno cão correndo animado no meu jardim florido. Ele estava acabando com as flores recém-floridas e ao invés de me irritar sorri ao ver sua felicidade de estar brincando, me contagiar. Ele era peludo, filhote e cor de chocolate. Debrucei-me para vê-lo melhor. O cãozinho corria de um lado para o outro, enquanto latia, como se já estivesse bem acostumado com o lugar. Sorri alegre. Distrai-me com ele.
De repente, percebi, pela minha visão periférica, uma silhueta familiar. De pronto tentei ter certeza, mas estava escondido pela copa das árvores, podendo-se ver apenas o movimento do vulto. Sem receios seguia diretamente o caminho que levava a minha casa, a minha porta...
Procurava uma razão de como aquilo seria possível, minha cabeça girava. Meu coração saltava insensato querendo que aquilo não fosse só mais um sonho inédito e sim a mais pura realidade.   Quem eu mais queria estava de volta e eu não sabia o que fazer... Fiquei sem reação...
Minha cabeça sabia e meu coração sentia... Zac voltara!
Ao raciocinar aquilo ganhei força. Voltei à realidade. Busquei por ele, mas só encontrei o pequeno cão deitado à vontade na grama... Olhava desesperada de um lado a outro e nada dele.
Corri do meu quarto e em poucos minutos eu estava abrindo a porta da sala. Mais uma vez não o encontrei. Bryan já estava brincando animado com o cão, como se fosse seu, e nem me viu ali. Estreitei os olhos buscando ao longe quem eu tanto procurava...

- Van? - Uma voz conhecida, soou rouca nos meus ouvidos. Virei-me totalmente emocionada, finalmente, achando quem eu queria.
Meu coração estava na garganta. Meus olhos embaçaram. Minhas pernas falharam. Minhas mãos tremiam. Eu não raciocinava. Só consegui vê-lo perfeito como uma luz. Rapidamente reparei que ele não estava como antes. Suas roupas eram casuais, que o deixaram mais lindo, e não os horríveis uniformes que não me traziam boas lembranças.
- Zac, você... - Murmurei num silvo baixo demais. Ele me olhava com um belo sorriso. Um sorriso confiante e de certa forma, vitorioso. Lágrimas saiam dos meus olhos. Eu estava vivendo de alegria.
- Não disse que voltava? - Falou em tom de brincadeira, mas eu sabia a seriedade do significado por trás daquilo. Assenti levemente o fazendo me proporcionar outro maravilhoso sorriso. - Então, aqui estou. - Ele abriu os braços como se dissesse que estava de volta em casa, no seu lar. Não aguentei e aproveitei a deixa, me aproximando e o abraçando forte como se fosse o único momento juntos. Mas eu sabia que era só o inicio.
Comecei a soluçar em seus braços de emoção. Choro de felicidade. Era assim que eu me sentia. Apertei-o tanto que pude sentir as batidas de seu coração. Zac acariciava meus cabelos e minhas costas com carinho. Ele sentiu tanta saudade quanto eu. Ainda de olhos fechados nos separamos.
- Não posso acreditar. - Falei com a voz falha, enquanto passava as mãos no rosto dele para saber se era verdade que ele estava ali, bem na minha frente. E sim, era verdade. Meu sonho mais real.
- É verdade, amor. Voltei pra ficar com você e o Bryan, pra sempre. - Sua fala foi uma melodia suave que ouvi. Como era bom ouvir sua voz, e saber que ele estava ali.
Ouvir suas juras de amor outra vez, suas palavras certas, sua voz de manhã mais rouca que nunca no meu ouvido. Estava sonhando acordada e ele parecia igual. Zac tocou meu rosto com a ponta dos dedos e me deleitei com aquele simples gesto.
- Quer dizer que... - Raciocinei o que ele dissera alguns segundos depois.
- Sai do Regimento para ficar definitivamente com vocês como uma pessoa física. - Ele se referia que não era mais um militar. Que havia deixado seu trabalho, por nós. Será que eu poderia exigir tanto dele quanto parecia?  Mas entendi aquilo como uma prova de amor. A melhor que eu poderia querer, porque afinal ele não estaria mais em perigo como antes. Ficaria comigo até o fim. - E vou montar o meu negócio de marcenaria que é o que eu gosto de fazer. - Falou determinado, como se estivesse tirando um peso dos ombros saindo daquele emprego e se dedicando ao que realmente gostava.
- Parece um sonho. - Anunciei satisfeita. Ele beijou minha testa, sabia que tinha me agradado. Vi em seus olhos que estava mais relaxado em relação aquilo.
- Desculpa por ter feito você sofrer pensando que eu não voltaria. - Segurou meu rosto e disse com certa carga de culpa. Segurei seus pulsos e olhei-o fixamente.
- Sabia que voltaria e você cumpriu sua promessa. O que mais eu poderia pedir? - Falei compreensiva enquanto ele acariciava meu rosto.
- Você eu não sei, mas case-se comigo? - Seu pedido me pegou desprevenida. Um golpe certeiro no meu apaixonado coração. Assenti sorrindo e chorando. Ele limpou meus olhos, beijando-os e entendeu minha silenciosa resposta. Nossos corações se comunicavam. Uma luz nos iluminava. O amor nos enchia de fé.
- Sim. - consegui pronunciar quase sem voz. 
Sua mão desceu até minha cintura, e com a outra em minha nuca ele aproximou mais meu corpo do seu. Arrepiei-me pelo singelo contato mas que me causava muitas sensações. De seus olhos, olhei para sua boca que a tanto tempo não tinha pra mim. Sorri ao sentir o toque quente e delicioso dos seus lábios sobre os meus. Sem pressa sentíamos todas as sensações de antes multiplicadas por mil. Meu coração acelerou, e o envolvi pelo pescoço. Ele me envolveu ternamente pela cintura, mantendo-me no beijo. Parecíamos estar em câmera lenta tamanha vontade de aproveitá-lo.
- Mamãe, olha o que o papai trouxe pra mim. - Bryan gritava empolgado e nos separamos rapidamente olhando para ele que trazia o cachorrinho nos braços. Ele parecia iluminado, alegre. Aproximamo-nos mais ficando da altura dele e acariciamos o cãozinho.
- Ele é lindo, filho. Qual o nome? - Olhei de lado para Zac, que piscou num gesto cúmplice, para Bryan.
- Chocolate, não é pai? - Falou esperando a confirmação de Zac, que assentiu. Beijei o topo de sua cabeça e logo ele voltou a brincar no jardim destruído, com o Chocolate. Zac sentou em uma cadeira de balanço, na varanda, eu em seu colo. Observávamos Bryan brincar.
- Van, só agora entendi a última coisa que Chance me disse. - Começou com um tom baixo esperando que eu perguntasse. Seus braços envolviam minha cintura enquanto um braço meu passava por trás de sua nuca.
- O que? - Olhei para ele esperando sua resposta com atenção.
- Ele disse para eu cuidar do Bryan... - Olhou ao longe indicando ele, e voltou-se para me olhar fixamente. - E se possível amar você. - Concluiu confidente.
Definitivamente ele não se sentia mais culpado e vi essa confiança em seus olhos. Encostei minha testa na dele, e fechamos os olhos. Sabíamos que aquilo havia acontecido independente de promessas, obrigações e afins. Amávamo-nos porque era pra ser assim. E acredito que se não fosse do modo como aconteceu, acabaríamos nos encontrando de outro jeito. Porque eu sou para Zac, e ele para mim. O nosso amor existia muito antes de qualquer querer ou decisão.
- Ele te mandou para nos cuidar e amar. - Completei.
- Sim, exatamente para amá-los. - Afagou meu braço.
- E eu agradeço por isso, porque ele me enviou o meu amor. E sei que lá do céu ele cuida de todos nós. - Suspirei sabendo daquilo, enquanto vagava o olhar pelo céu claro.
- Te amo, te amo, te amo... - Ele beijava meu rosto a medida que falava. - Nunca esqueça isso. - Exigiu num tom doce me olhando profundamente. Acariciei seu rosto, desenhando seus traços que já estavam eternizados no meu coração.
- Não vou esquecer porque você vai estar sempre ao meu lado para lembrar. - Falei consciente que o que eu dizia era nosso futuro. Nosso amor me garantia aquilo. - Eu te amo e te dedico meu amor. - E logo ele me cobriu com seus beijos apaixonados que me tiravam a consciência, me dando paz. Que me levava ao céu e me trazia nos braços.
Meu amor era o dele e isso bastava pra superarmos tudo. Uma vida ao seu lado seria uma benção divina. E entendi que apenas uma palavra podia começar a explicar o turbilhão de sentimentos que dedicávamos um pelo outro... Amor. 

~~*~~ 

EpílogoA vida te surpreende assim como o amor. Quando tudo parece estar perdido, ele te mostra que um novo recomeço faz parte da vida. O amor te faz viver novamente. Te faz ver que nada foi em vão, tudo acontece por algum motivo, que só depende de você para interpretá-lo. Te faz acreditar no amor como um sonho possível, que precisa ser batalhado em busca da felicidade.
E esses amores, em suas intensidades e diferenças, se igualam no mesmo ponto: Pois são ricos de pureza e verdade.

Fim.