Fic: Love Again
Autora: Téh
Adaptação: Lua
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Morte e Honra
O lugar
estava lotado de corpos, de homens, em pedaços por conta dos conflitos no
Afeganistão. Ali tinha um cheiro de éter misturado com sangue. Sons dos gemidos
de milhares de soldados machucados na
batalha. Eu também estava ferido mas nem tanto quando o meu amigo Chance que
agonizava ao meu lado, numa maca, enquanto eu esperava algum atendimento
sentado em outra. Naquele estado ele não poderia se esforçar, estava muito
debilidado; Um tiro no ombro esquerdo próximo ao peito, uma perna e braço
quebrados. Seria um milagre ele resistir, e eu estava me preparando para o
pior.
- Zac... -
ele tentou me chamar mas sua fraqueza o impedia de impor qualquer força.
- Chance
fique quieto que logo vem uma enfermeira nos examinar. - olhei ao redor me
deparando com uma correria que nem me deu tempo para chamar por alguém. Aproximei-me
da sua maca, ajoelhando-me ao seu lado.
- Você
precisa me prometer uma coisa, meu amigo... - Sua voz saia inaudível, sem
força.
- Do que
você tá falando Chance? Não faça esforço. - Segurei seu ombro, ele meneou a
cabeça insistindo em continuar.
- Me
prometa que cuidará do meu filho, diga a Vanessa que eu o pedi para fazer isso,
por favor. - falou com muita dificuldade, fechando os olhos em seguida.
- Não se
exalte, Chance, por favor. - supliquei tentando acalma-lo, mas grosseiramente
ele pegou meu pulso o apertando.
- Ande,
prometa! - vociferou com um resto de força que sobrara, olhando em meu rosto. -
Eu não tenho muito tempo... Prometa que cuidará do meu filho... - com a testa
franzida ele levou a mão ao peito, como se sentisse uma fisgada no coração.
- Eu
prometo. - minha voz saiu embargada, minha vista embaçada. Sabia que o pior
aconteceria.
- Co-como
seu filho. - num suspiro ele murmurou, derramando uma lágrima de dor.
- Como meu
filho. Agora descanse... - exigi percebendo que ele não iria descansar.
- Mas uma
coisa... cuida da Va-vanessa e se possível a ame... - num suspiro mudo ele
arfou o peito e desfaleceu de olhos abertos. Passei meus dedos por eles os
fechando. Triste, encostei minha cabeça em seu ombro, enquanto apertava a manga
de sua camisa. Meu melhor amigo havia morrido, e eu tinha uma promessa a
cumprir.
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- Chance Crawford.
- Escutei uma voz feminina pronunciar aquele nome e logo identifiquei de quem
se tratava.
Sai da
sala, devagar por conta da torção do meu pé; estava de muleta. Segui até o
encontro da voz. Ela era a única mulher, além da recepcionista, no local. A vi
de costas, sua silhueta debruçada sobre a mesa da recepção perguntando
informações sobre o marido e meu melhor amigo, Chance.
- Senhora,
sinto muito mas... - a secretária começou, mas a interrompi. Elas me olharam desentendidas,
eu fiz um gesto e Aline entendeu saindo. A mulher a minha frente tinha os
cabelos negros presos em um rabo de cavalo, olhos expressivos e pouco
maquiados. Sua expressão era de espanto sem mesmo saber por que a tinham
chamado. Vanessa tinha uma beleza impar, porém não era o momento mais apropriado
para admirá-la.
- Quem é
você? - ela me olhou de cima a baixo, e fixou os olhos no meu sobrenome escrito
no meu uniforme. – Zachary Efron. - pareceu lembrar-se das duas vezes que nos
vimos, uma em seu casamento e outra no aniversário do pequeno Bryan.
- Sim, o
amigo do Chance. - falei cordialmente, ela meneou a cabeça impaciente.
- Onde ele
está? Porque me chamaram aqui? - vociferou olhando por cima dos meus ombros na
busca por Chance.
- Vanessa,
eu sinto muito em dizer mas... - baixei a cabeça sentindo um nó na garganta ao
ter que dar aquela noticia. Ao erguê-la me deparei com seus olhos cristalinos,
com lágrimas se formando. Seu lábio inferior tremeu e ela parecia prever do que
se tratava.
- O que
aconteceu com o Chance? - angustiada ela indagou, seus olhos saltando das
órbitas. E aquilo só tornava as coisas mais difíceis pra mim, imagine pra ela.
- Ele...
ele morreu, Vanessa. - murmurei fraco, bruscamente senti um impacto contra meu
peito.
Vanessa
soluçava baixo contra meu corpo, apertando meu braço numa forma de fuga.
Abracei-a, com minha mão livre da muleta, tentando consolar a sua dor e de
certa forma aquilo também me fazia bem. Não tinha recebido nenhum abraço desde
que ele morrera, e aquilo era um pouco reconfortante. Perdi meu irmão, meu
amigo, porém nem se comparava a dor que aquela mulher em meus braços estaria
sentindo. Pude ouvir seu choro baixo molhar meu uniforme. Do mesmo jeito que
ela se aproximou se afastou, limpando o rosto e respirando fundo. Seus olhos
encontraram os meus como se pedisse ajuda, ou desculpa.
A partir
daquele dia eu ficaria mais próximo dela e principalmente de seu filho. Era a minha obrigação. Fazia parte da minha
promessa.
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Depois de
todo o velório, os tiros dos soldados e a exaltação ao hino nacional havia
chegado um momento que eu nem imaginava, entretanto fazia parte das honras
militares.
Zac
carregava, nas mãos, uma bandeira dobrada e sobre ela uma medalha de honra.
Pelo pouco que conheço de Zac sabia que ela faria questão de fazê-lo, tanto por
ter sido um dos últimos a conviver com Chance, quanto pela sua amizade. Não sei
bem o porquê que nós nunca fomos muito próximos, talvez por falta de tempo já
que eu nem passava muito tempo com meu marido que dirá com seu amigo.
Ainda de
muleta ele, veio de encontro ao meu filho Bryan, passando entre duas fileiras
de oficiais armados. Em todo seu caminho permaneceu serio, questão de
protocolo, suponho. Não me olhou, se dirigindo apenas a Bryan que estava na
minha frente. Com certa dificuldade ele se abaixou ficando da altura dele e o
entregou o que pertenceu a Chance.
- Cuide
disso, e seu pai sempre estará perto de você. - sussurrou Zac, apenas eu e
Bryan pudemos ouvir.
Não sabia
se realmente Bryan entendia o que se passava. Ele tinha recém completado 5
anos, e apesar de ser bastante inteligente parecia ter a ingenuidade de um recém
nascido o que me agradou, já que ele não sofreria tanto. Ver seu rostinho de
anjo tão triste partia meu coração. Bryan era muito novo para já ter perdido o
pai da maneira que aconteceu.
Senti uma
mão sobre a minha, que estava pousada no ombro de Bryan, apoiando-me. Olhei da
mão de Zac aos seus olhos. Sorri fracamente agradecendo por ele estar ali.
Entre conhecidos e desconhecidos me sentia bem na sua presença.
- Obrigada.
- sussurrei inaudível, o obrigando a fazer leitura labial.
Escutei um
choramingar e quando vi Bryan estava agarrado no pescoço de Zac que o abraçou
de modo paternal. Involuntariamente levei a mão ao rosto e só então percebi que
também chorava. Vê-los daquela forma me fez recordar Chance. Ele era um bom
pai, e faria falta na criação de nosso filho.
Tudo estava
acontecendo tão intensamente que eu me sentia sozinha, perdida... Não ter mais
meu marido era como não ter metade do meu coração. Estava incompleta. Além do
mais, a partir dali as coisas ficariam mais difíceis. Criar um garotinho
sozinha não seria fácil, entretanto eu tinha que fazer por ele e pelo Chance.
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Primeiro Passo
Como eu
contaria a Vanessa que tinha que cuidar dela e do pequeno Bryan? Ela aceitaria
fácil? Qual seria sua reação? Preferi não arriscar. Omitiria aquilo o máximo
que pudesse, até que conseguisse comunica-la. Eu tinha que ficar por perto mais
não sabia como. Pedir abrigo seria desespero da minha parte, além do mais ela
estranharia. Entretanto eu não tinha escolha, já que fazia 3 anos que estava
com o regimento de Chance e depois daquela missão tiraria férias por alguns
meses, obrigado também pelo meu estado de saúde.
- Obrigada
de novo, Zac. - Vanessa rompeu meus pensamentos.
- Que é
isso. Pode me chamar quando quiser, se precisar. - disse casualmente o mais amigável
possível. Estávamos na varanda de sua casa, ela quase dentro da sala e eu na
soleira da porta.
- Você vai
ficar bem? - perguntou apontando para minha perna.
- Não foi
nada de mais, só uma torção no pé. - dei de ombros, sem importar muito com as
fisgadas que sentia. Ela me olhou como se perguntasse se eu ficaria ali. Tratei
de mudar de assunto. - Ele era um bom homem, um irmão que não tive. - falei
cabisbaixo, encarando o chão.
- Eu sei
disso. - pareceu pensar ou lembrar-se de algo, enquanto cruzava os braços no
peito. Olhava distante daquele tempo, pensativa.
- O Bryan vai
ficar bem? - apontei pra dentro e pela porta aberta pude ver que ele brincava
na escada.
- Sim,
espero que sim. Ele é novinho para entender, acredito que será o que menos vai
sofrer, afinal. - encontrei seus olhos fundos e pesados. Estampava uma máscara
de fortaleza que não me enganava.
- Ele é tão
parecido com o pai. - indiquei com o queixo pra onde ele estava, Vanessa olhou assentindo.
Mesma cor de cabelo, castanho dourado e olhos claros. Seu pai em miniatura.
- Éhr... -
senti uma dor na sua voz, tive vontade de abraça-la, mas me contive.
- Se
precisar de alguma coisa, qualquer coisa que esteja faltando, algo que o Bryan
queira, não hesite em pedir. Estou aqui pra isso. - falei determinado e ela me
olhava com uma expressão de confusão somada a recente fúria. Sua testa
franzida, com os olhos semicerrados pareciam me recriminar.
- Não
precisamos de nada. Você já fez muito. - disse me dando as costas, mas antes
agarrei seu antebraço a fazendo ficar.
- Vanessa,
é serio, o que quiser eu posso fazer. - falei tentando ajudar. Vi em seu rosto
se formar um sorriso irônico, enquanto ela se soltava.
- Hey, você
não percebeu? Eu não quero um militar perto de mim e do meu filho. - cuspiu as
palavras que ficaram pesadas em meus ouvidos. Aquela mudança me atingiu em cheio,
como uma bala de canhão.
- Mas,
Vanessa... - pulei num pé só para tentar contê-la, em vão.
- Mas nada.
Quem eu quero você não tem o poder de trazer de volta. Vá embora! Cuide da sua
vida. - Bradou aos ventos, chorosa, batendo a porta na minha cara. Esmurrei-a
por simples reação.
A culpa me
arruinava. Tinha sido precipitado em oferecer mundos e fundos pra ela sem ao
menos conhecê-la melhor, sem ao menos esperar sarar sua ferida recente. Comecei
errado, tampouco desistiria. Como eu não tinha escolha fiquei na varanda mesmo,
num confortável "sofá" que tinha ali. O cansaço tinha me pegado junto
com as dores no meu pé que aumentaram pelo esforço que havia feito durante o
dia. Ou seja, não tinha condições físicas de andar até um hotel, já que casa eu
não tinha.
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A noite
havia chegado rápido para um dia tão longo como aquele. Depois do jantar fui
ver se alguém ainda estava onde não deveria. Espiei pela janela e vi Zac
dormindo sentado. Revirei os olhos por sua insistência de ficar ali.
Sua presença
me trazia segurança e ao mesmo tempo não poderia querê-lo por perto. Ele me
trazia lembranças claras do meu marido e aquilo doía tanto, doía na alma. Perguntei-me
se não estaria sendo muito mal educada o deixando fora, mas eu não poderia
colocar um desconhecido dentro de casa. Está bem, ele não era tão desconhecido
assim... E pensando melhor acredito que Chance gostaria que eu o abrigasse em
casa.
Mas por que
diabos, ele teimava em ficar ali? Ele não tinha casa, família?
- Mamãe? -
Senti Bryan puxar minha saia. Olhei pra baixo e me agachei da sua altura
segurando seus ombros.
- Você
deveria estar dormindo, querido. - Afaguei seus cabelos vendo sua carinha
amassada de sono.
- Deixa o
tio entrar? - Apontou pra fora da janela, voltando logo a bocejar e esfregar os
olhos.
- Vá
dormir, está bem? Eu resolvo isso. - Beijei o topo de sua cabeça enquanto
guiava-o de volta as escadas fazendo-o subi-las.
Dei meia
volta. Suspirei derrotada. Não faria aquilo por piedade, ou por que Bryan havia
pedido, faria porque era preciso. Senti que era preciso. Meu coração dizia que
eu deveria fazer. Saí para a varanda batendo a porta com força. Aquilo fez Zac
se remexer, sem acordar. Aproximei-me dele sentando ao seu lado, vendo que
dormia feito pedra.
- Sei que
vou me arrepender disso. - Reclamei frustrada com minha própria ideia. Sem mais
demora puxei um de seus braços tentando erguê-lo para ficar de pé. Minha força
não era suficiente pra levantar um corpo de um homem duas vezes maior que eu.
Impaciente bati em seu rosto.
- Vamos me
ajude. - Meio assustado ele abriu um olho, sem falar nada se levantou me tendo
como apoio.
Seu braço
foi sobre meus ombros e com a outra mão ele se apoiava na muleta. Meu braço
ficou atrás de suas costas. Por um momento me peguei olhando seu rosto tão
próximo ao meu, e como um imã meus olhos fixaram-se na sua boca vendo-a semiaberta.
Levantei meus olhos encontrando os dele, desviei rapidamente. Aquilo revirou
algo em mim. Não soube dizer o que.
Passamos
pela porta com certa dificuldade, primeiro ele depois eu. Conseguimos chegar
somente até o sofá, pois eu não sabia o que Zac tinha. Parecia doente, cansado,
exausto. Logo ele se deitou acomodando-se em todo o sofá parecendo ficar bem
confortável.
Quando ia
sair para buscar um cobertor senti sua mão em meu pulso me fazendo ficar e mirá-lo.
Outra vez ele não disse nada. Desceu a mão até a minha levando-a de encontro
aos seus lábios depositando um beijo ligeiro nela, como se agradecesse o que eu
tinha feito. Aquilo me pegou desprevenida e a sensação me surpreendeu. Saber
que ele estava ali me transmitia algo bom, uma paz, segurança. Sorri em
agradecimento e sem dizer nada sai.
Meu coração
acelerou a medida que voltava aproximando-me com o cobertor em mãos. Me agachei
ao seu lado percebendo que ele já dormia. Agradeci mentalmente e o cobri,
voltando rápido para meu quarto onde não dormi.
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Coração Partido
Outra vez
uma noite longa. Não consegui dormir bem por ter ficado a pensar em tudo. Desde
a morte do meu marido, como seria agora com Bryan e o novo hospede, Zac. Não
era certo ele ficar aqui, mesmo depois do que eu fiz. O que eu não queria era
um oficial enfurnado na minha casa, sendo exemplo pro meu filho seguir. Aquilo
tinha passado do limite e eu tinha que tomar o controle. Cedo deixei Bryan na escolinha,
sem esperar o ônibus que o levava, e quando voltei Zac ainda dormia. Tomava meu
café, tranquila, quando escutei uns passos atrás de mim. Virei-me vendo que Zac
tinha acordado.
- Você não
tem parentes por aqui? - falei sem expressão alguma, fria enquanto remexia no
meu café.
- Não. Meu
pais moram no México e minha irmã cuida deles. Sou independente. Mas porque
pergunta? - ele sentou-se na cadeira a minha frente, fitando-me confuso.
- Pra saber
quando você vai embora. Olha, eu não quero parecer grosseira, mas eu não quero
que você fique aqui. - Me levantei sem olha-lo, outra vez fria. Senti algo
ruim, má sensação. Sentia-me desmotivada em estar fazendo aquilo, porém era
preciso. Não queria Zac por perto.
- Vanessa,
o meu único interesse aqui é o Bryan. Ajudá-lo a crescer como eu disse que... -
Ele pareceu frear as próprias palavras, mas deixou escapar algo tarde demais. Virei-me,
o encontrando olhando diretamente pra mim.
- O que
quer dizer com isso? Você não tem direito nenhum. - Bradei enfurecida, falando
o óbvio. Quem ele pensava que era?
- Mas o
Chance me deu esse direito antes de morrer. - Disse sem receios, ao que parecia
tudo estava sendo esclarecido.
- Como é?
Do que você está falando? - Gesticulei alterada.
- No leito
de morte o Chance me faz prometer que cuidaria do Bryan e... - Interrompi
negando a acreditar o que ele dizia.
- Você está
maluco! Isso é um absurdo! - Ri de nervosismo, andando de um lado pro outro com
a mão na cintura assimilando o que ele dizia.
- Isso
mesmo, Vanessa. Agora minha vida está aqui. Eu tenho que cuidar de vocês em
nome do meu amigo. E é o que eu vou fazer. - Disse determinado e eu gargalhei
irônica. Aquilo não poderia ser verdade.
- Só pode
estar brincando. Chance não pode ter pedido isso. - Pensei com as mãos nas têmporas,
desesperada. Agora essa, quando eu queria um militar longe de mim era quando
ele queria ficar perto.
- Não foi
um pedido, foi uma promessa. E algo que eu aprendi no exército é nunca desistir
de uma causa, ser honrado a ela em todos os momentos difíceis. E assim eu farei
com vocês. - Terminou o que parecia um discurso e eu o olhava sem acreditar em
suas palavras mesmo elas me soando a pura verdade.
- Pois eu
dispenso, como mulher dele eu tenho esse direito. Pronto! Você está livre da
sua promessa. Vá viver a sua vida! - Gritei exaltada, gesticulei indicando a
porta da rua pra ele.
- Você não
entende. - Ele meneou a cabeça em negação.
- Não! É
você que não está me entendendo. O que eu mais quero é ter uma vida nova longe
de alguém que possa influenciar meu filho a ser algo que foi a causa da morte
de seu pai. - Despejei as palavras junto com as lágrimas quentes que estavam
ansiosas pela fuga.
- Mas eu não
posso deixar o comando... - Coçou a cabeça, com falsa paciência.
- Ótimo,
então vá viver a sua vida longe daqui. - Supliquei em prantos, enquanto
escondia meu rosto entre minhas mãos. A dor tomou conta do meu ser. Sentia-me
acabada e sabia que o estava ferindo também.
Depois só
ouvi um bater de porta que me assustou. Virei-me e percebi que ele tinha ido
embora como eu pedira. E o que deveria ter me deixado descansada tornou-se uma
armadilha. Agora entendi porque chorava. Porque eu não queria que ele fosse.
Não queria que me deixasse sozinha, sangrando por dentro. Despedaçada.
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Sem Disfarce
Foi verdade
que eu gostei da sua companhia. Saber que ele esteve aqui a noite toda foi
reconfortante, mas eu precisava que ele fosse embora. O meu trauma pela perda
do meu marido ficou e Zac me trazia tudo à tona mais forte e eu não queria
aquilo, apesar de sentir que meu coração não gostava daquela decisão.
Dois dias
se passaram desde que ele se foi. Não sei bem o porquê, mas o vazio que ficou
só aumentava a cada hora. Vê-lo me dava uma paz, como se tudo se curasse e ao
mesmo tempo acelerava meu coração. Bryan não gostou de saber que Zac havia ido
embora comparando aquilo até como a perda de seu pai.
Quando estávamos
saindo para esperar o ônibus que o levaria para a escola, tivemos uma surpresa.
Zac estava no jardim caminhando lentamente com sua muleta, uma mala e um
sorriso murcho nos lábios. Talvez por timidez, ou pela persistência que
demonstrou ter voltando depois de tudo o que eu disse.
- Tio! -
Bryan ao vê-lo correu e Zac o abraçou soltando a muleta no chão. Mais uma vez o
vi como pai. Ele parecia gostar tanto do Bryan e ao mesmo tempo parecia seu
pai...
Minhas mãos
gelaram, meu coração acelerou, acredito que meu rosto ruborizou quando senti
seus olhos sobre mim.
- Mamãe o
ônibus chegou. - Disse tristonho, me voltei para ele beijando seu rosto. Ele se
despediu de Zac e subiu no ônibus, que logo se foi.
Ao perceber
eu já estava bem na sua frente. Algo inexplicável inundou meus sentimentos ao
cruzar meu olhar com o seu. Meu estômago revirou, senti borboletas impacientes
quererem sair dali. Ficamos a trocar olhares intensos como se sentíssemos
saudade, o que não era mentira.
- Vanessa,
eu queria conversar... - Impulsivamente abracei-o apertado, me pendurei em seu
pescoço. Suspirei aliviada, de olhos fechados, por tê-lo de volta.
Senti suas
mãos tomarem minhas costas em resposta e aquilo me causou um arrepio em todo o
corpo. Seus braços eram fortes, quentes e macios, dando-me o calor que eu
necessitava naquele frio. Meu coração falhou junto com minhas pernas ao sentir
ele me apertar mais como se também esperasse por aquele momento tanto quanto
eu.
De repente
eu me afastei totalmente desnorteada. O que estava fazendo? O que eu estava
sentindo? Num gesto inesperado ele tocou meu queixo erguendo meu rosto me
obrigando a olha-lo. Estávamos tão próximos que pude sentir sua respiração
calma e quente contra a minha. Seus olhos cor de oceano eram fascinantes e
vistos de tão perto tinham um brilho hipnótico.
Pela proximidade
reparei que ele tinha uma pequena cicatriz na sobrancelha e me perguntei em
qual batalha ele a tinha conseguido. Era tão bom estar daquela forma. Perto
dele eu me sentia segura. Meu coração palpitava nervoso.
- Sei que
começamos com o pé esquerdo e quero te dizer que eu pensei muito e vi que se
era da vontade do Chance que você me ajudasse a cuidar do Bryan, eu fico de
acordo. - Murmurei voltando a ficar de cabeça baixa, envergonhada e ao mesmo
tempo certa do que dizia.
- Nossa, Vanessa.
Eu só tenho que te agradecer por isso, é verdade. Farei de tudo pra te ajudar a
tornar o Bryan um garoto melhor do que ele já é, sem influenciá-lo a seguir os
passos do pai. - Ergui o rosto e percebi o quanto ele estava contente mais ao
mesmo tempo limitado. Tive a impressão que ele queria me agradecer com um
abraço, mas se policiou ficando petrificado no chão. Atitude de militar, rígido?
- Então
vamos entrar, e eu te mostro seu quarto de hóspede. - Nervosa coloquei a mão na
nuca.
- Vanessa,
eu prometo que vou embora assim que receber o que me devem lá do Regimento e te
deixo em paz. - Me garantiu com falsa vontade.
- Não se
preocupe. Fique e depois conversamos. - Sorri amigável e ele permaneceu serio,
tenso.
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As
lembranças vieram como se estivessem acontecendo de novo. Lembrei-me da
primeira vez em que vi Vanessa, em seu casamento com Chance, e em como desejei
que ela fosse a minha noiva. Naquele dia ela simplesmente estava linda, o mais
perto da perfeição que já vi. Desde então evitei o máximo estar perto dela, e
recusei até ser padrinho de Bryan quando Chance me convidou. Tudo necessário. E
agora eu me via naquela situação. Cuidar de Bryan e conviver com a mulher que
realmente foi a única que me interessou de verdade. Ah, mais um pequeno
problema... Ela tinha sido mulher do meu melhor amigo. Isso seria uma traição
da minha parte. Estar apaixonado por ela e não poder fazer nada. Estava encurralado.
Eu tinha
voltado não só pela minha obrigação perante Bryan e a promessa que fiz ao meu
amigo, se não por Vanessa também. Sabia que ela precisava de força, apoio. Sua
casca estava firme, mas algo me dizia que logo era desmoronaria. Passamos a
tarde conversando e nos conhecendo melhor. Fiquei encantado com sua habilidade gastronômica.
Bryan havia
voltado da escola e ficou muito contente ao saber que eu ficaria por alguns
dias com ele. Entreguei o carrinho de controle remoto que comprei de presente
pra ele, e disse que assim que terminássemos o dever brincaríamos.
- É fácil,
olha. - Disse enquanto ajudava com o dever. - Preste atenção nos pontos antes
de traça-los. Imagine a figura na sua cabeça e depois faça no papel. - Ele
assentiu entendendo e fez como eu disse terminando o desenho.
- Um
elefante! Como imaginei. -Sorriu para mim entusiasmado e eu baguncei seus
cabelos.
- Agora
vamos brincar? - Falei cumplice e ele logo se levantou pegando seu presente. De
esguelha percebi que Vanessa nos olhava escondida atrás da parede, apenas com a
cabeça a mostra. Ao encontrar nossos olhares ela se escondeu e eu balancei a
cabeça, tentando tirá-la dali. Em vão e perca de tempo.
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Depois do
jantar, Bryan já deveria estar no quinto sono. Eu e Vanessa ainda conversávamos
no sofá da sala, enquanto tomávamos vinho. Conversa vai conversa vem, voltávamos
sempre pro mesmo assunto.
- Vanessa,
eu sei que é difícil tudo o que você está passando, mas eu te admiro por estar
sendo tão forte. - Falei confiante, encontrando sua atenção.
- Você não
faz ideia de como está sendo complicado. - Vanessa começou suspirando. Sua
cabeça estava apoiada na mão.
- Érh,
tenho uma noção. - Disse contornando a boca da taça com o dedo.
- Um dia
tudo está bem e no outro você perde seu marido, perde o rumo. - Sua voz tinha
mudado, estava abafada, baixa.
- Sinto
muito... - Tentei ajudar.
- Ele me
prometeu que voltaria. Ele me fez essa promessa e não... não cumpriu. - Ansiosa
sua voz falhou. - Ele me deixou sozinha com o Bryan. - De calma sua voz se fez
descontrolada, assim como as lágrimas que jorravam sem pudor de seus olhos.
- Van...
- Ele disse
que ajudaria a cuidar do nosso filho... - Limpou as lágrimas com a costa das
mãos. - Que voltaria para educá-lo. E agora estou aqui, sozinha. - Ela
gesticulou como se não tivesse nada a sua frente, sendo tomada por novas
lágrimas.
- Saiba de
uma coisa. - Peguei em sua mão a fazendo olhar pra mim. - Você não está
sozinha. Chance me mandou pra cuidar de vocês e é isso que eu vou fazer. -
enfatizei a última palavra diante de seus olhos vermelhos.
- Obrigada
por isso. Você é ótimo, Zac. - Sorriu fraco ficando cabisbaixa. Levei meus
dedos ao seu rosto limpando as lágrimas. Aproximei-me puxando seus ombros a
colocando em meu peito, onde ela continuou a soluçar até ficar calma, com a mão
sobre meu coração. Como era bom sentir Vanessa em meus braços... Protegida.
Envolvida no meu amor sem saber... E finalmente a vi sem disfarces, estava
desabafando e aquilo era bom.
- Isso me
dói tanto. - Murmurou num silvo baixo.
- Eu sei
que sim, meu am... - parei constrangido e agradeci por ela não ter percebido
meu deslize. Voltei a acariciar suas costas de olhos fechados lhe transmitindo
calma. - E ele voltou, mas não pra casa. - Afaguei seus cabelos, enquanto
sentia novas lágrimas molhar minha camisa.
- Sinto um
buraco no meu coração. Mas não sei... - Pausou. Beijei o topo de sua cabeça,
automaticamente, outra vez dando sinais.
- Não sabe
o que? - Perguntei e ela se afastou para responder.
- Com você
isso tudo ameniza. Sua presença me faz bem, me sinto melhor com você... - ela
admitiu baixo, enquanto olhava para as mãos, em minha perna, sem perceber.
- Eu também
me sinto assim. É melhor com você por perto. - Murmurei acariciando sua mão.
- Então
estamos fazendo um bem ao outro. - Ela disse com um riso fraco e eu fiz o
mesmo.
- E vou te
proteger, estarei ao seu lado quando precisar. - Assegurei e ela assentiu.
Nossos olhares
se encontraram e logo eu estava perto demais de seu rosto. Suavemente tirei sua
franja dos olhos, desci minha mão por seu rosto limpando resquícios de lágrimas
e desci mais até seu queixo fitando sua boca semiaberta. Percebi que Vanessa
ficara de olhos fechados aproveitando o carinho. Minha mão foi para sua nuca a
puxando delicadamente para perto, ela não hesitou tocando meu rosto levemente.
Senti sua respiração acelerar a medida que comecei a tocar meus lábios nos
seus. Ambos desejando o beijo.
Num lapso
de arrependimento pulei do sofá, movido por uma força sobre-humana: A da
traição.
- Eu não
posso. - Bradei, nervoso passando a mão nas têmporas e na cabeça, andando de um
lado a outro.
- Isso não
é certo. - Ela já estava de pé ao meu lado, gritando desesperada.
- É tem
razão, isso não pode acontecer. - Nervoso me via sendo a pior pessoa do mundo
se continuasse com aquilo, e por outro lado morria de frustração por não tê-la
beijado como desejei... como desejávamos.
- O que
está acontecendo... - Se refreou, parando pensativa, com as mãos na testa.
- O que
está acontecendo? - Precisava que ela dissesse para tomar a melhor decisão.
- Nada. - Sussurrou,
e percebi que ela já chorava outra vez. Antes que eu pudesse acalentá-la Vanessa
correu escada acima.
Fiquei
pensando se ela iria dizer que estávamos nos apaixonando. Sim, era exatamente o
que tinha acontecido. Não havia culpa, ou traição que superasse aquele
sentimento. O amor não teme, mas precisávamos de tempo.
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Amor de Novo
Os 15 dias
de repouso de Zac foram passando, passando e transformaram-se em 2 meses. Ele
não descansou um dia sequer desde que eu o hospedara em casa. Inventou de tudo,
desde pintar a casa por fora, a reforçar os móveis e até fazer uma casinha na
árvore pro Bryan que ficou super empolgado.
Não sei por
que, mas ele sempre me evitava e aquilo me fazia mal de alguma forma. Queria
ele perto, antes era cedo demais.
Zac deixou
a muleta de lado, por ter ficado bom, e no mesmo dia foi jogar futebol com
Bryan. Eles se divertiam muito. Davam-se bem e eu cheguei a pensar que Zac
seria um bom pai quando tivesse um filho. Eu e ele nos encarávamos algumas
vezes, nos aproximávamos e logo um dos dois corria. Fugia dos sentimentos que
sabíamos ser reciproco. O que estava acontecendo era assustador, porém compreensível.
Zac demonstrava sua generosidade em me ajudar quando eu tinha uma crise de
lembranças e chorava a noite toda em seu colo, com seu apoio e amor. Ou, quando
Bryan tinha pesadelos ele o fazia voltar a dormir.
Quando
voltei da casa da Ashley encontrei a minha vazia. Era tarde da noite, a babá
deveria estar cuidando de Bryan. Estranhei os brinquedos jogados na sala e
corri pelas escadas, imaginando o pior. Empurrei a porta do quarto de Bryan e
vi a cena mais emocionante da minha vida. Zac dormia ao lado de Bryan na cama,
um braço envolvendo-o paternalmente e na outra mão um livro, o qual
provavelmente contava pra ele após seu pesadelo.
Aquele
quadro ficou pintado na minha mente, registrado como uma foto. A alegria me
dominou por saber que meu filho tinha um pai. Não de sangue, mas de coração que
o amava como se fosse seu. Lembrei-me do Chance, o que me fez soluçar mais e
mais. De como ele foi generoso no seu amor e cuidado conosco nos mandando a
pessoa certa. Exatamente a que nos amaria como ele. Tentei tampar minha boca,
porém saia sem eu querer.
Bryan
parecia tão sereno no seu sono, sabia que estava seguro. Estava com um sorriso
confirmando que se sentia bem com o seu novo pai. Senti-me acalentada por
vê-los daquela forma como pai e filho de verdade.
Sorri ao
somente agora nominar o que eu sentia por Zac. Era amor. Do mais puro e
verdadeiro que senti na vida. Levei a mão aos lábios em surpresa por minha
descoberta óbvia. Tudo o que sentia estava tão claro e nítido que parecia
escrito em meus olhos.
Já tinha
sentido um amor por Chance e esse não morreria, o amor não morre. Entretanto
com Zac as sensações eram diferentes, mais intensas, mais reais. E soube que o
amei desde a primeira vez que o vi, em meu casamento. Seus olhos me analisando
me intimidaram, é verdade, e contive aquela sensação tentando esquecê-lo.
Eu amava
Zac. Não por escolha, mas por decisão do meu coração o qual eu não podia lutar
contra. Voltei a amar! Era uma experiência incrível. O sentimento mais nobre
estava de volta ao meu coração na forma de amor por um outro homem. O amor por
meu filho seria eterno e irremediável.
Tudo foi
recente e não estávamos preparados para as consequências. Entretanto agora eu
via tudo de outra perspectiva. Minhas feridas abertas, estavam saradas.
Cicatrizadas. Meus medos vencidos pela fé no amor. O amor não tem medo, o amor
supera qualquer dor. Eu contaria o quanto antes a ele o que eu sentia... Eu
precisava. E o esperaria quanto fosse preciso, o compreenderia. Pois o amor é paciente.
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Era verdade
que eu não parava de buscar alternativas pra me distrair e não pensar em
Vanessa, o que era humanamente impossível com sua presença diária e amável que
deixava mais claro o meu amor que crescia se multiplicava, e isso várias vezes
por dia. Entendi que precisávamos de tempo para poder entender e absorver tudo
o que tinha acontecido: A morte de Chance, e o que vinha acontecendo: Eu e
Vanessa nos amávamos.
Precisávamos
de compreensão e sei que mesmo sem tocar nesse assunto sabíamos. Estávamos
esperando o melhor momento que não demoraria tanto mais.
Terminava
de pintar a casinha do cachorro que prometi a Bryan e tive a visão do paraíso,
ou melhor, de uma deusa. Vanessa vinha com uma bandeja de sucos em nossa
direção. Os cabelos mal presos, com as mechas caídas nos olhos, que eu queria
tanto tirá-las pela simples desculpa de poder mirar seus olhos outra vez. O
corpo perfeito, coberto por uma regata branca e um short jeans curto, realçavam
suas curvas. Parecia ridículo, mas só de vê-la eu ficava desconcertado.
Derrubei um pincel na grama manchando-a de azul.
- Tio o
suco. - Bryan me tirou dos meus devaneios. Assenti voltando a Vanessa que
sorria tímida e peguei um copo.
- Você não
para, não? - Ela disse com ar de riso, sentando-se na grama conosco. Bryan
ficou a pintar distraído.
- Se parar
eu penso, se eu pensar... - Parei ao perceber que falaria demais, terminei o
suco num gole só o devolvendo a bandeja.
- Se
pensar? - Ela insistiu, com a sobrancelha erguida.
- Faço
bobagens. - Desconversei me levantando, desviando de sua obstinação.
- Que
bobagens? - Perguntou ela me seguindo até a varanda. Virei-me pra ela
percebendo sua vontade de descobrir do que eu falava. Olhei ao longe, Bryan
continuava a pintar o teto da casinha, segui para dentro da cozinha.
- Não vem
ao caso, Van. - Desviei dela, ficando de costas.
- Porque
você tá fugindo? - falou casualmente. Coloquei os braços na pia respirando
fundo, antes de continuar.
- Porque se
eu não fugir eu me deixo levar e isso não é o certo no momento. - Fechei os
olhos lutando par continuar.
- Porque
não é certo? Porque você insiste nisso, Zac? - Escutei sua voz bem atrás de
mim. Tive vontade de dizer tudo o que estava engasgado e acredito que não
seguraria por muito tempo.
- Porque
acho que não estamos preparados. - Confessei quase inaudível, sem vontade.
- Faça o
que seu coração sente, é o melhor conselho que tenho. - Murmurou docemente com
uma mão no meu ombro.
- Eu me
sinto um traidor, já disse. - Impaciente, soquei a pia.
- Ao
contrário. Você é um lutador, já venceu varias batalhas... - Tentou me
convencer.
- Mas essa
eu perdi. - Admiti, me virando pra fitá-la encontrando seu rosto tão belo e
suave.
- Perdeu? -
Desentendida ela mirou, franzindo o cenho. Foi o que bastou para me render ao
que sentia por aquela mulher. Desatar as amarras que prendia meu coração.
- Perdi
para o amor que sinto por você. - Confessei, numa voz rouca, abafada. Percebi
que a boca de Vanessa abria e fechava sem ter o que dizer, ainda refletindo o
que eu falara. - E é por ele que eu voltei, e porque estou aqui te dizendo o
que sinto. E pelo qual demorei a espera do melhor momento pra confessar de uma
fez que eu te amo de um jeito tão bom que nunca terei palavras para
descrevê-lo. - Terminei e já estava rolando um lágrima pelo meu rosto assim
como no rosto de Vanessa. Minhas mãos foram parar em seu rosto, tirei as mechas
insistentes, contornei com o polegar seus lábios, enquanto ela apoiou as mão em
meu peito.
- Como eu
queria ouvir isso... - Seus olhos cristalinos exalavam ternura, me aproximei
mais roçando meu nariz no seu, ambos de olhos fechados. - Senti medo, no
começo, mas percebi que o amor não deve sentir isso. O meu coração se decidiu
por você de uma forma pura e sem receios. Pensei que tudo poderia acontecer de
novo, mas apaguei isso da minha mente. E por fim acabei amando, de novo, você.
E é um lindo amor. - Confessou contente com uma sorriso nos lábios, passou as
pequenas mãos pelo meu rosto.
- Érh,
lutamos inutilmente. - Falei zombeteiro arrancando um riso seu, enquanto colávamos
as testas.
- O meu
coração estava doente e quando você chegou foi como um remédio. - A medida que
dizia seus olhos ficavam cristalinos, e sabia que eram apenas espelhos dos
meus. - Minha vida ganhou sentido, vontade... - Murmurou sincera.
- E eu
nunca pensei que poderia amar você como eu sei que amo. Eu também travei uma
batalha, mas com o amor não se luta, não se perde, apenas se ganha. E você é o
melhor amor que eu poderia querer. - Falei acariciando seu rosto com meu
polegar, enquanto ela segurava suas lágrimas. - Vanessa, eu te amo. - Disse
acariciando seu rosto , enquanto via lágrimas se formarem nas bordas de seus olhos.
- Porque está chorando, Van? - Assustado olhei diretamente em seu rosto.
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Quando ouvi
aquelas palavras saírem de sua boca eu parei de respirar, meu coração pulava
insensato de emoção. Eu era correspondida e estava feliz. Mais do que feliz.
Ninguém nunca conseguiria entender o que eu sentia mesmo se tentassem explicar
em palavras, desenhos, músicas, poemas. Nada seria o bastante pra expressar
meus sentimentos, e como eu queria que Zac soubesse daquilo. E eu tentaria
fazê-lo tanto feliz como eu era apenas com sua presença, com seu olhar, com seu
toque...
- De
emoção. Repete isso, por favor? - Pedi emocionada sorrindo e ele fez.
- Eu te
amo, Vanessa. Minha vida agora é te amar. - Olhei de seus olhos a sua boca,
fascinada com sua beleza. Assimilei suas palavras inalando seu amor. Meu
coração estava leve, puro...
- Eu te amo
tanto, Zac, como nunca pensei ser possível outra vez. - Sussurrei baixo, de
testas coladas entregávamos nossos corações rendidos.
Fechei os
olhos esperando que ele fizesse o que tanto esperávamos. Lentamente Zac levou
seus lábios aos meus, sentindo o beijo esperado se tornar inesquecível. Meu
coração disparou e eu quase o sentia pela pele. Meus braços foram parar na sua
nuca acariciando-o, e os seus na minha cintura colando-me a ele. Corpos
transmitindo carinho, calor. Com beijos lentos aproveitávamos o tempo
desperdiçado... Por medo. Quanta bobagem se o amor é tão grande e deixa essas
coisas minúsculas, em comparação. Seus lábios tinha um sabor inenarrável, um
sentido mágico. Quentes e macios, irresistíveis e meus. No encontro de nossas
línguas eu senti meus joelhos vacilarem junto com meu coração que parou.
Acariciei
seu rosto, enquanto degustava de seus incessantes beijos. Suas mãos poderosas
afagaram minhas costas e senti um arrepio percorrer meu corpo. O beijo foi
melhor do que qualquer expectativa. Poderíamos nos beijar quantas vezes quiséssemos
que nunca seria suficiente para satisfazer-nos. Meu peito arfava por falta de
ar tamanha duração do beijo, que por mim nem importaria de continuar. Porém,
por causa da natureza humana separamos nos lábios com muita dificuldade ficando
de testas coladas e olhos fechados sentindo todos os sentidos virem à tona mais
fortes e purificados pelo amor celeste que nos envolveu.
Suspirávamos
apaixonados. O sentimento mais puro do mundo havíamos dedicado: O Amor. E era
sem volta pra ambos. Sabia que ele era o homem certo. Sabia que o amava.
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Sem Palavras
Nossa! Como
a vida te pega de surpresa. Eu havia perdido meu marido a alguns meses e meu
coração voltou a amar rápido e em maior intensidade. E eu não me sentia como
traidora. Ao contrario sabia que Chance tinha me mandado a pessoa mais certa e
que lá do céu ele nos abençoava.
Iria fazer
três meses que estávamos assumidamente juntos. Bryan adorou a ideia e fez uma
surpresa a Zac enquanto passeávamos, como uma verdadeira família que éramos,
pelo parque.
- Papai, eu
quero um cachorrinho pra casinha que você fez comigo. - Falou com um beicinho
pidão, nem se dando conta de quanto importante foi aquele pedido espontâneo.
- O que
você disse? - Zac se ajoelhou no meio da grama, segurando Bryan pela cintura.
Eu via tudo muito emocionada, comovida com aquele presente que Bryan fez a Zac
sem saber. Ele que até então se distraia com o seu sorvete, olhou para Zac sem
dar muita importância ao que disse.
- Eu quero
um cachorrinho, Papai. - falou de um jeito tão inocente. Zac não se conteve de
emoção. Abraçou Bryan o erguendo do chão. Lágrimas saiam de seus olhos. À muito
tempo ele não tinha vergonha de chorar na minha frente.
- Claro,
meu filho. Tudo o que você me pedir. - Segurou Bryan por baixo dos braços o
erguendo no ar, enquanto rodopiava. Nosso filho gargalhava com a brincadeira
parecendo voar. Eu ria e chorava de tanta emoção ao ver minha vida tão feliz.
- Só não vá
deixar ele mal acostumado. - Brinquei divertida, com Bryan nos braços de Zac,
me abracei a eles.
- Obrigado
por me deixar ser parte dessa familia... Nossa familia. - Ele disse olhando pra
mim, sorridente, com Bryan no colo.
- Eu que te
agradeço, por ser maravilhoso. - Rapidamente no beijamos, e logo voltamos a
brincar com Bryan que estava mais feliz que nunca.
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Estávamos
felizes, digo... mais que isso. Acho que precisariam criar outra palavra que
expressasse o que sentíamos. Zac disse que me pediria em noivado dali a duas
semanas e aquilo me encheu de entusiasmo. Morar junto era uma coisa, mas casar
era outra. E seria no religioso já que Chance e eu escolhemos somente o civil.
Agora teríamos a benção de Deus, o amor Dele nos encheria de luz. Mesmo
dormindo em seus braços, onde descobri meu lar, sonhava praticamente todas as
noites com ele. Era incrível!
Um dia
aparentemente comum me pegou desprevenida. Senti um beijo no canto da boca,
sorri contente de como ele costumava me acordar. Passei a mão pela cama a
percebi vazia. Abri os olhos me adaptando a luz, e consegui ver a silhueta de
um militar sair do meu quarto. Parecia um fantasma. Porque Zac estava vestido
assim? Levantei num pulo e corri atrás do vulto. Desci as escadas e com a mão
na maçaneta da porta Zac parou virando-se pra me olhar e sua expressão não era
contente.
- Porque
você...? Aonde vai? - Temerosa, perguntei sem raciocinar.
- Eu tenho
que me apresentar no comando hoje. - Falou secamente com o rosto inexpressivo.
- O que
co-como assim? - Esfreguei a mão nas têmporas, descrente. Olhei para seu
uniforme e me lembrei da vez que Chance foi e não voltou mais. Um vento frio
passou pelo meu corpo e me arrepiei. Aquela sensação era conhecida e eu tinha
tanto medo dela.
- Eu tenho
que ir resolver algumas pendências, e eu já adiei tempo demais... - Ele falou
com cuidado para não falar mais do que devia. Saiu pela porta, minha visão
turvou a medida que ele se afastava. Porque tudo se repetia?
- Aquela
ligação... Por isso você ficou tão distante... - Raciocinei juntando os fatos
de dias anteriores que ele vinha recebendo insistentes ligações e nunca me
dissera quem era.
- Sim,
Vanessa, foi isso. - Ouvir meu nome inteiro foi uma surpresa desagradável, já
que nunca mais havia me chamado assim. Sua expressão agora estava enfadada,
como se fosse um sacrifício ter que fazer aquilo e eu sabia que era verdade.
- Precisa
mesmo fazer isso? - Indaguei receosa, temendo pela resposta lógica.
-
Infelizmente sim. - Seu tom foi triste. Ele se aproximou mais de mim. - E como
acha que o Bryan vai ficar? - Levantei a cabeça, encontrando seu olhar de
sacrifício.
- Ele vai
estranhar, espero que fique melhor do que eu... - Meu tom foi inseguro, ele não
deveria ter ouvido isso. Queria poder dizer o quanto eu desejava que ele
ficasse e esquecesse as obrigações, mas não podia. O egoísmo não existia em
mim, eu não seria capaz de contraria-lo.
- É por
apenas um tempo. Espero voltar logo e... - Pausou, pegando em minhas mãos. - Me
casar com você, Van. - Sua mão foi até meus cabelos levando uma mecha para trás
da orelha.
- Vou
sentir tanto a sua falta. - Meu coração sofria com aquela despedida. Eu
acreditava no que ele dizia, sabia de seu amor por nós, eu e Bryan. Mas porque
ele estava se sacrificando?
- Amor,
entenda que o que estou fazendo é pro nosso bem. - Ele explicou tendo a minha
atenção. Beijou rapidamente minha testa e desceu as escadas para o jardim. O
segui angustiada sem saber o que fazer. Percebi que estava descalça e que o
tempo estava nublado.
- Quando
você volta? - Perguntei uma oitava mais alta do que eu queria, pelo menos
chamei sua atenção tendo-o mais um pouco.
- O quanto
antes, assim espero. - Se virou encontrando meu olhar triste e baixo. Não
suportaria olhar pra ele pela última vez. Mas pelo nosso amor eu acreditaria
que ele voltaria, o medo que me trazia lembranças ruins não contrariaria meu
coração.
- Confia em
mim, Van. Só pensei em vocês fazendo isso. - Disse mantendo-se paciente, e
percebi sua generosidade. Não importaria o que fosse, eu entendia que era para
nosso bem. Já tínhamos esperado pela cura das cicatrizes e agora não seria
diferente. Ele estaria sempre em minhas orações, onde eu pediria a Deus para
cuidá-lo e trazê-lo de volta. Arrepiei-me pelas gotas geladas que caiam sobre
meu corpo, e me dei conta que usava apenas uma camisa dele.
- Eu
confio, meu amor. Será difícil sem você mas eu tenho fé. - Me agarrei nas
mangas do seu uniforme, e não evitei lágrimas ao olhá-lo. Pelo menos com a
chuva elas se camuflavam. Sabia que ele chorava comigo.
- Vanessa
eu tenho uma explicação pra tudo isso, você... - Murmurou como se fosse sua
culpa aquilo, porém eu não exigiria nada
por agora.
- Sei que
sim, e você me dirá quando voltar, está bem? - Funguei encostando nossas
testas. Ele me envolveu nos seus braços e mesmo no meio da chuva eu me sentia
quente, segura. E por aquele segundo nada importava, nada existia.
- Voltarei
pra vocês. - Murmurou garantindo-me mais uma vez, segurava firme meu rosto
entre suas mãos. Senti verdade nas suas palavras e me apegaria a elas em minhas
preces. - Eu não falho nas minhas promessas, Van. - Eu o ouvi dizer de olhos
fechados enquanto estávamos de testas coladas. Suas palavras tranquilas
dançavam em meus ouvidos decorando-as e de certa forma convicta de que ele
cumpriria o que dizia.
- Rezarei
por você, pensarei em cada minuto o que vivemos até o dia que você voltar. -
Murmurei com a voz embargada. Nos separamos, ele me olhou profundamente. Eu
sentia seu amor, mas agora doía. Chovia no meu coração.
- E tenho
bons motivos pra voltar. - Garantiu com um breve sorriso, eu funguei triste. -
Eu te amo e diga o mesmo ao meu filho. - Sussurrou abafado, eu apenas assenti
mordendo o lábio inferior.
- Também te
amo, meu amor. - Murmurei quase sem voz, olhando em seus olhos.
Com a
grande aproximação fechei os olhos esperando pelo que aconteceria, e delicadamente
ele me beijou de uma forma intensa e calma, apenas pressionando os meus lábios
com os seus. Justo e inesquecível. Meu coração delirava a cada vez que aquilo
acontecia, e agora era igual, ou mais forte. Aos poucos nos separamos, ele me
abraçou outra vez e então o deixei ir naquela tempestade. Quem dera eu pudesse
chorar como as nuvens. Quem sabe assim o meu diluvio o trouxesse de volta.
Sentei-me
na escada olhando para o nada, soluçando com a recente ausência que ela fazia.
Era difícil, mas eu seria forte. Ele me ensinou a ser forte. Ele enxugou as
minhas lágrimas, ele me abraçou quando eu precisei, ele me fez amar novamente e
por ele eu ficaria esperando o tempo que precisasse. A chuva que lavava a alma,
também lavava meu amor deixando o limpo e forte para uma nova tempestade. Eu
nunca gostei de dias chuvosos e naquele momento só senti ser um dia triste,
entretanto sairia o sol para iluminar com seus raios claros e decididos. Igual
seria o dia da volta de Zac, claro e decidido.
Eu o sentia
em mim, sim. Ele estaria onde quer que eu estivesse, eu o levaria comigo. Ele
tinha o meu amor, e eu o seu. Senti-me como na vez que Chance se foi, porém eu
sabia que Zac voltaria. Ele me deu essa certeza, essa promessa. E eu confiava
nele. Meu amor era fiel a Zac. Eu acreditava que ele cumpriria sua promessa. O
meu amor me dizia que tudo era possível se o coração fosse confiante. O nosso
era, é e sempre será dessa forma. Não temos amarras, nosso amor é liberdade.
Eu não
sentiria medo, sentiria falta do meu amor.
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Destinos Traçados
Aquele
lugar me lembrou do dia que eu reencontrei Vanessa. Naquela mesma sala que eu
lhe dei uma péssima noticia, somente esperava que hoje a noticia fosse melhor.
Esperava por uma resposta a um pedido extraordinário e pedi máxima urgência. E
necessitava dessa resposta o mais rápido possível. Vanessa e Bryan não mereciam
esperar e por eles eu precisava voltar o quanto antes.
Sentado no
banco, me mantinha ansioso com as mãos cruzadas, me debruçava apoiando meus
cotovelos nos meus joelhos, demonstrando minha tensão. Pessoas passavam.
Entravam e saiam. Algumas horas depois o General Phillipe me chamou. Fiz
rapidamente continência. Olhei-o buscando pela resposta que eu queria.
- Então,
General? - Me apressei em perguntar.
- Sinto
muito, mas seu pedido foi negado. - Ele disse firme. - E você foi escolhido
como novo comandante do Regimento do Chance. - Anunciou com se fosse a melhor
notícia que eu poderia esperar, mas se enganou. Era a pior.
Não sabia o
que dizer, não conseguia. A notícia havia me pego de surpresa, afinal eu tinha
ido ali com outro proposito. Ao mesmo tempo em que eu não queria aceitar por
causa de Vanessa e Bryan, devia aquilo ao meu amigo e minha pátria. Senti-me
levando uma rasteira e antes que caísse me sentei.
A voz de Chance,
no dia de sua morte, ecoou em meus pensamentos. "Mas uma coisa... cuida
da Va-vanessa e se possível a ame... "
Ele queria
que eu a amasse. Parecia saber que aquilo seria possível. Parecia aprovar desde
o inicio. Ele me confiou seu filho. Sua mulher. Sua vida. Não poderia desfazer
aquela promessa. Ou melhor, ela não tinha mais validade porque eu não estava
com Vanessa por ela, mas sim porque eu a amava de verdade. E sentia Bryan como
meu filho de coração. E não conseguiria viver sem minha família, minha vida,
meu amor... Vanessa e Bryan precisavam de mim, e eu deles.
Se
aceitasse comandar o Regimento e o que aconteceu com Chance, acontecesse
comigo? Falharia não uma mais duas vezes, e não era do meu costume. Dei minha
palavra que voltaria e sabia que Vanessa acreditava nisso. Agora eu não saberia
viver sem aquela mulher.
- E, então
Comandante Efron, vai assumir o Regimento do Chance? - Insistiu impaciente. De
pronto me levantei, negando assiduamente com a cabeça. Minha voz não saia.
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*** O lugar
era desconhecido. Parecia um centro de alguma grande cidade. Mas apesar disso
tudo estava vazio, deserto. Havia quatro caminhos: dois à minha frente, e dois
as minhas costas. Parecia uma encruzilhada. Dei um volta sem sair do meu eixo,
me sentindo perdida. Quando virei vi Chance na minha frente. Ele sorria. Mesmo
de longe eu via seu rosto bem definido. Acenei contente em vê-lo tão bem... Mas
me enganei. Seu corpo, com o uniforme do exército, estava sujo de terra e
sangue... Que parecia sair de seus ferimentos à bala.
De repente
duas luzes fortes vinham em grande velocidade atrás dele. Parecia um trem por
sua grandeza. Tentei avisá-lo, porém ele não ouvia e nem consegui sair do
canto. Antes que o trem o pegasse, virei o rosto escondendo-o em minhas mãos.
Senti o forte clarão aos poucos diminuir e então voltei a olhar o lugar. Uma
luz fraca iluminava outro corpo que não era mais de Chance. Zac me sorria
feliz, envolto dele vinham luzes de diversas matrizes.
Uma paz me
invadiu e agora me senti bem. Segura. Reparei que tinha apenas um caminho que
me levava a ele. Sem pensar andei até próximo dele, que me envolveu em seus
braços. Antes de olhá-lo nos olhos, acordei do meu sonho. ***
Perdi a
conta das vezes que tive aquele sonho desde que Zac havia ido. Eu acordava
feliz, calma e esperançosa. Corria para a janela na expectativa de que ele
estivesse voltando, mas só via a neve cair. Desde aquele dia o tempo mudara.
Nova York ficou debaixo da neve, como se expressasse o que sentia por dentro,
já que me sentia assim... Fria e triste. Porém sempre com a esperança e sabia
que a cada sonho, ele estava mais perto de mim. Era um dia a menos de
distância, um dia a menos sem sua ausência...
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Sonho Feito Realidade
O céu azul,
com poucas nuvens esbranquiçadas, anunciava a mudança de estação. O sol irradiava
seus raios intensamente aquecendo a pele e o coração. Adorava aquela paisagem
que via de minha janela toda manhã. Junto com aquela "mudança" eu
ficara mais feliz como os pássaros que bailavam nas copas das árvores.
Enquanto
inspirava o ar fresco de olhos fechados escutei um latido ao longe. Curiosa,
fui tentar ver onde era. Ao olhar para baixo da minha varanda vi um pequeno cão
correndo animado no meu jardim florido. Ele estava acabando com as flores recém-floridas
e ao invés de me irritar sorri ao ver sua felicidade de estar brincando, me
contagiar. Ele era peludo, filhote e cor de chocolate. Debrucei-me para vê-lo
melhor. O cãozinho corria de um lado para o outro, enquanto latia, como se já
estivesse bem acostumado com o lugar. Sorri alegre. Distrai-me com ele.
De repente,
percebi, pela minha visão periférica, uma silhueta familiar. De pronto tentei
ter certeza, mas estava escondido pela copa das árvores, podendo-se ver apenas
o movimento do vulto. Sem receios seguia diretamente o caminho que levava a
minha casa, a minha porta...
Procurava
uma razão de como aquilo seria possível, minha cabeça girava. Meu coração
saltava insensato querendo que aquilo não fosse só mais um sonho inédito e sim
a mais pura realidade. Quem eu mais
queria estava de volta e eu não sabia o que fazer... Fiquei sem reação...
Minha
cabeça sabia e meu coração sentia... Zac voltara!
Ao raciocinar
aquilo ganhei força. Voltei à realidade. Busquei por ele, mas só encontrei o
pequeno cão deitado à vontade na grama... Olhava desesperada de um lado a outro
e nada dele.
Corri do
meu quarto e em poucos minutos eu estava abrindo a porta da sala. Mais uma vez
não o encontrei. Bryan já estava brincando animado com o cão, como se fosse
seu, e nem me viu ali. Estreitei os olhos buscando ao longe quem eu tanto
procurava...
- Van? - Uma
voz conhecida, soou rouca nos meus ouvidos. Virei-me totalmente emocionada,
finalmente, achando quem eu queria.
Meu coração
estava na garganta. Meus olhos embaçaram. Minhas pernas falharam. Minhas mãos
tremiam. Eu não raciocinava. Só consegui vê-lo perfeito como uma luz.
Rapidamente reparei que ele não estava como antes. Suas roupas eram casuais,
que o deixaram mais lindo, e não os horríveis uniformes que não me traziam boas
lembranças.
- Zac,
você... - Murmurei num silvo baixo demais. Ele me olhava com um belo sorriso.
Um sorriso confiante e de certa forma, vitorioso. Lágrimas saiam dos meus
olhos. Eu estava vivendo de alegria.
- Não disse
que voltava? - Falou em tom de brincadeira, mas eu sabia a seriedade do
significado por trás daquilo. Assenti levemente o fazendo me proporcionar outro
maravilhoso sorriso. - Então, aqui estou. - Ele abriu os braços como se dissesse
que estava de volta em casa, no seu lar. Não aguentei e aproveitei a deixa, me
aproximando e o abraçando forte como se fosse o único momento juntos. Mas eu
sabia que era só o inicio.
Comecei a
soluçar em seus braços de emoção. Choro de felicidade. Era assim que eu me
sentia. Apertei-o tanto que pude sentir as batidas de seu coração. Zac
acariciava meus cabelos e minhas costas com carinho. Ele sentiu tanta saudade
quanto eu. Ainda de olhos fechados nos separamos.
- Não posso
acreditar. - Falei com a voz falha, enquanto passava as mãos no rosto dele para
saber se era verdade que ele estava ali, bem na minha frente. E sim, era
verdade. Meu sonho mais real.
- É
verdade, amor. Voltei pra ficar com você e o Bryan, pra sempre. - Sua fala foi
uma melodia suave que ouvi. Como era bom ouvir sua voz, e saber que ele estava
ali.
Ouvir suas
juras de amor outra vez, suas palavras certas, sua voz de manhã mais rouca que
nunca no meu ouvido. Estava sonhando acordada e ele parecia igual. Zac tocou
meu rosto com a ponta dos dedos e me deleitei com aquele simples gesto.
- Quer
dizer que... - Raciocinei o que ele dissera alguns segundos depois.
- Sai do
Regimento para ficar definitivamente com vocês como uma pessoa física. - Ele se
referia que não era mais um militar. Que havia deixado seu trabalho, por nós.
Será que eu poderia exigir tanto dele quanto parecia? Mas entendi aquilo como uma prova de amor. A
melhor que eu poderia querer, porque afinal ele não estaria mais em perigo como
antes. Ficaria comigo até o fim. - E vou montar o meu negócio de marcenaria que
é o que eu gosto de fazer. - Falou determinado, como se estivesse tirando um
peso dos ombros saindo daquele emprego e se dedicando ao que realmente gostava.
- Parece um
sonho. - Anunciei satisfeita. Ele beijou minha testa, sabia que tinha me
agradado. Vi em seus olhos que estava mais relaxado em relação aquilo.
- Desculpa
por ter feito você sofrer pensando que eu não voltaria. - Segurou meu rosto e
disse com certa carga de culpa. Segurei seus pulsos e olhei-o fixamente.
- Sabia que
voltaria e você cumpriu sua promessa. O que mais eu poderia pedir? - Falei
compreensiva enquanto ele acariciava meu rosto.
- Você eu não
sei, mas case-se comigo? - Seu pedido me pegou desprevenida. Um golpe certeiro
no meu apaixonado coração. Assenti sorrindo e chorando. Ele limpou meus olhos,
beijando-os e entendeu minha silenciosa resposta. Nossos corações se
comunicavam. Uma luz nos iluminava. O amor nos enchia de fé.
- Sim. -
consegui pronunciar quase sem voz.
Sua mão
desceu até minha cintura, e com a outra em minha nuca ele aproximou mais meu
corpo do seu. Arrepiei-me pelo singelo contato mas que me causava muitas
sensações. De seus olhos, olhei para sua boca que a tanto tempo não tinha pra
mim. Sorri ao sentir o toque quente e delicioso dos seus lábios sobre os meus.
Sem pressa sentíamos todas as sensações de antes multiplicadas por mil. Meu
coração acelerou, e o envolvi pelo pescoço. Ele me envolveu ternamente pela
cintura, mantendo-me no beijo. Parecíamos estar em câmera lenta tamanha vontade
de aproveitá-lo.
- Mamãe,
olha o que o papai trouxe pra mim. - Bryan gritava empolgado e nos separamos
rapidamente olhando para ele que trazia o cachorrinho nos braços. Ele parecia
iluminado, alegre. Aproximamo-nos mais ficando da altura dele e acariciamos o
cãozinho.
- Ele é
lindo, filho. Qual o nome? - Olhei de lado para Zac, que piscou num gesto
cúmplice, para Bryan.
-
Chocolate, não é pai? - Falou esperando a confirmação de Zac, que assentiu.
Beijei o topo de sua cabeça e logo ele voltou a brincar no jardim destruído,
com o Chocolate. Zac sentou em uma cadeira de balanço, na varanda, eu em seu
colo. Observávamos Bryan brincar.
- Van, só
agora entendi a última coisa que Chance me disse. - Começou com um tom baixo
esperando que eu perguntasse. Seus braços envolviam minha cintura enquanto um braço
meu passava por trás de sua nuca.
- O que? - Olhei
para ele esperando sua resposta com atenção.
- Ele disse
para eu cuidar do Bryan... - Olhou ao longe indicando ele, e voltou-se para me
olhar fixamente. - E se possível amar você. - Concluiu confidente.
Definitivamente
ele não se sentia mais culpado e vi essa confiança em seus olhos. Encostei
minha testa na dele, e fechamos os olhos. Sabíamos que aquilo havia acontecido
independente de promessas, obrigações e afins. Amávamo-nos porque era pra ser
assim. E acredito que se não fosse do modo como aconteceu, acabaríamos nos
encontrando de outro jeito. Porque eu sou para Zac, e ele para mim. O nosso
amor existia muito antes de qualquer querer ou decisão.
- Ele te
mandou para nos cuidar e amar. - Completei.
- Sim,
exatamente para amá-los. - Afagou meu braço.
- E eu
agradeço por isso, porque ele me enviou o meu amor. E sei que lá do céu ele
cuida de todos nós. - Suspirei sabendo daquilo, enquanto vagava o olhar pelo
céu claro.
- Te amo,
te amo, te amo... - Ele beijava meu rosto a medida que falava. - Nunca esqueça
isso. - Exigiu num tom doce me olhando profundamente. Acariciei seu rosto,
desenhando seus traços que já estavam eternizados no meu coração.
- Não vou
esquecer porque você vai estar sempre ao meu lado para lembrar. - Falei
consciente que o que eu dizia era nosso futuro. Nosso amor me garantia aquilo.
- Eu te amo e te dedico meu amor. - E logo ele me cobriu com seus beijos
apaixonados que me tiravam a consciência, me dando paz. Que me levava ao céu e me
trazia nos braços.
Meu amor
era o dele e isso bastava pra superarmos tudo. Uma vida ao seu lado seria uma
benção divina. E entendi que apenas uma palavra podia começar a explicar o
turbilhão de sentimentos que dedicávamos um pelo outro... Amor.
~~*~~
EpílogoA vida te surpreende assim como o amor. Quando tudo parece estar
perdido, ele te mostra que um novo recomeço faz parte da vida. O amor te faz
viver novamente. Te faz ver que nada foi em vão, tudo acontece por algum
motivo, que só depende de você para interpretá-lo. Te faz acreditar no amor
como um sonho possível, que precisa ser batalhado em busca da felicidade.
E esses amores, em suas intensidades e diferenças, se igualam no mesmo
ponto: Pois são ricos de pureza e verdade.
Fim.